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11.2.23

OPINIÃO: Para pior já basta assim

 
Com a revolução de Abril, a Educação registou importantes progressos. Em relação aos anos 60 e 70 evoluímos muito no ensino, mas ainda estamos muito longe dos países mais desenvolvidos da Europa. Mas o que seria deste país sem a Escola Pública? A verdade é que sucessivos governos têm maltratado este importante pilar do país. Até o Chega, que no seu programa de 2019 defendia a abolição da Escola Pública e do Ministério da Educação, já escondeu essa ideia…
Quando a Escola tem o papel corretor das desigualdades na sociedade, os próprios professores estão a ser vítimas de desigualdades. Um país que não respeita as pessoas que trabalham nas Escolas, não se respeita a si próprio. Todos esses profissionais têm assistido ao Ensino de faz-de-conta. Os professores estão a ser transformados em secretários para as estatísticas e baby-sitter para garantir o repositório de jovens nas Escolas.
E ainda temos, os comportamentos incivilizados de alunos com os paizinhos a bramir, irados por os meninos serem apontados, enquanto o contribuinte paga os atos de vandalismo nas Escolas. O bullying continua a ser um flagelo transversal a todos, alunos, funcionários e professores. O insucesso, é palavra proibida, a simulação, o fingimento e a hipocrisia são as palavras de ordem.
Sempre em mudança, a burocracia leva ao desespero e ao cansaço de quem trabalha nas Escolas. A constante alteração dos programas curriculares e planificações, assim como a “dança” de pessoal de Escolas para Escolas dentro do mesmo Agrupamento, muitas vezes, por obstinação das direções, obriga a um desgaste desnecessário aos docentes e funcionários. A imposição de quotas e as avaliações de desempenho criam movimentações antidemocráticas e promovem lambe-botas. Tudo isto, é mais lenha para incendiar uma maioria de professores e funcionários desmotivados e revoltados.As Aulas de Cidadania e de Educação Sexual ainda são mal vistas por uma sociedade conservadora e retrógrada. Ao contrário, um juiz que foi expulso da magistratura por ameaças, insultos a profissionais de saúde e forças de segurança, em janeiro, deu uma aula sobre direitos, liberdades e garantias para alunos e professores na Escola de Vale de Milhaços no Concelho do Seixal. Este homem, Rui da Fonseca e Castro, conhecido como negacionista da pandemia, que proibiu as máscaras e incentivou a violação das regras sanitárias, deu uma aula numa Escola – Isto é o cúmulo!
Mas a recuperação do tempo de serviço dos professores, perdidos em dois períodos, entre 2005 e 2017, não é o único motivo da insatisfação dos professores. O próprio modelo de ensino, a precariedade, o abuso da mobilidade com a “casa às costas”, a falta de democracia nas Escolas com um modelo diretivo autoritário e a falta de respeito para com todos os profissionais dos estabelecimentos de ensino, são motivos, mais do que suficientes para o grito de revolta. Infelizmente, neste problema que já é antigo, só agora, alguns, perceberam que é preciso dar a volta. Há falta de professores, a maioria envelhecidos e a carregarem com turmas de 28 alunos; há falta de funcionários e a grande maioria são muito mal pagos.
Sensato, seria uma recuperação faseada, proposta essa, que o PS e o PSD inviabilizaram em 2018. Os professores na Madeira e Açores, já viram e muito bem as suas pretensões garantidas, mas esta discriminação revolta os que estão no continente. Por isso, os professores pedem respeito e estão a dar uma lição de luta ao país, contra as falsas promessas.
Perante a prepotência e a teimosia do governo, é importante que os professores e funcionários estejam unidos e não desistam desta luta por uma Escola Pública com futuro. É importante que o sindicalismo de uma vez por todas se una; mas todos juntos, na defesa dos direitos de quem trabalha e há outras classes penalizadas. É preciso que os encarregados de educação percebam, que se está a lutar pelo futuro deste país e por melhores condições nas Escolas.
Os alunos estão a perder, o futuro do país está a atrasar-se. A grande possibilidade de se perder uma luta, é não lutar. Os professores estão a acreditar que é possível mudar com esta luta que é de todos, os que querem um país mais justo. Contudo, já há oportunismo político, até de quem nunca quis resolver nada, antes pelo contrário e por isso já se sente em marcha uma prematura campanha eleitoral. Mas nunca se esqueçam, se queremos mudança, já diz o povo: “para pior já basta assim”.
* Paulo Cardoso in10-02-2023) - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre


23.1.23

OPINIÃO: Alguém vai ter de ceder

Como numa dança, também numa mesa negocial entre partes desavindas tem de haver espaço para cada um dos parceiros ensaiar movimentos. Marcar o passo. Porém, na coreografia que, nas últimas semanas, tem juntado no mesmo palco professores, sindicatos e Governo, só tem havido pisadelas. A tal ponto que as negociações entraram num novo impasse.
A bonomia que o ministro da Educação mostrou após mais uma conversa falhada não foi condizente com a veemência com que os sindicatos voltaram a dizer "não" às tréguas. Não só não suspenderam as greves, como anunciaram novas manifestações. Ainda há corda para esticar.
Ora, independentemente do que possamos pensar acerca dos expedientes utilizados pelos professores para fazerem valer os seus argumentos, não é de todo aceitável que um docente (nem, na verdade, nenhum trabalhador) tenha de esperar uma média de 16 anos para ter um vínculo contratual; como não é aceitável que os professores vivam mergulhados em burocracia e sejam forçados a efetuar largas dezenas (quando não centenas) de quilómetros para ensinar. As suas reivindicações são, no essencial, válidas, mas têm uma limitação de base: não podem ser atendidas todas ao mesmo tempo. Não é possível resolver num passe de mágica problemas que se arrastam há anos. E que custam muitos, mas muitos, milhões de euros.
Por isso, só há uma saída possível: negociar com realismo e bom-senso. A bem dos professores, mas sobretudo da escola, das famílias e dos alunos, as maiores vítimas indiretas desta batalha. Dar pouco não é melhor do que não dar nada, como exigir tudo também não será certamente a melhor tática para conquistar mais alguma coisa. É verdade que as greves só são eficazes se doerem. Mas o prolongamento deste bloqueio até meados de fevereiro pode fazer perigar todo o segundo período escolar, o que não favorece nenhuma das partes. Alguém vai ter de ceder. Melhor seria se fossem todos. Não há outra forma de dar sentido a este protesto.
* Pedro Ivo Carvalho in Jornal de Notícias - 21/1/2023

19.1.23

OPINIÃO: Não há greves fofinhas

 
Não há greves fofinhas. Se há um impasse negocial e os trabalhadores decretam uma greve, o objetivo é causar dano e forçar o patrão a negociar. No Estado ou nas empresas privadas. É assim também com as greves dos professores. Reconhecer essa legitimidade não invalida, no entanto, que se questionem alguns dos métodos que estão a ser utilizados.
Em várias escolas, os professores quotizaram-se para pagar os funcionários que se juntaram à greve. Não foi solidariedade, foi um truque para conseguir fechar as escolas. Um método inaceitável em cima de um pré-aviso de greve, pelos vistos legal, que aposta na imprevisibilidade e permite que cada um falte quando achar melhor. Ou quando achar que o impacto é maior. Uma soma que gera o caos nas escolas.
Os pais, naturalmente, protestam. Porque já são muitos dias sem aulas. Em cima de dois anos letivos de pandemia. E porque, de repente, é impossível saber se as aulas começam na hora prevista, ou na seguinte. Se é preciso voltar a meio da manhã ou da tarde, abandonando o posto de trabalho.
Alguns professores reagiram com a soberba de quem se julga o único defensor da escola pública: as escolas não são depósitos de crianças, dizem. Certíssimo. Mas o que é que isso tem a ver com a necessidade de pais e alunos saberem com que escola podem contar? Que interesse terá alienar pais e alunos de forma cega e, com isso, retirar o foco a um conjunto de reivindicações mais do que justo?
A precariedade de professores e funcionários, com contratos sucessivamente caducados e renovados (quando corre bem), é inaceitável. Os salários estão entre o mau (os dos professores) e o miserável (o dos funcionários). As perspetivas de progressão na carreira são quase nulas.
Mas quem tem de resolver este conflito é o Governo. Dentro do que o Orçamento do Estado for capaz (não é um saco sem fundo). Hoje começa nova ronda de negociações. É tempo de trocar proclamações inúteis por negociações sérias.
* Rafael Barbosa in Jornal de Notícias - 18/1/2023