Com a revolução de Abril, a Educação registou importantes progressos. Em relação aos anos 60 e 70 evoluímos muito no ensino, mas ainda estamos muito longe dos países mais desenvolvidos da Europa. Mas o que seria deste país sem a Escola Pública? A verdade é que sucessivos governos têm maltratado este importante pilar do país. Até o Chega, que no seu programa de 2019 defendia a abolição da Escola Pública e do Ministério da Educação, já escondeu essa ideia…
Quando a Escola tem o papel corretor das desigualdades na sociedade, os próprios professores estão a ser vítimas de desigualdades. Um país que não respeita as pessoas que trabalham nas Escolas, não se respeita a si próprio. Todos esses profissionais têm assistido ao Ensino de faz-de-conta. Os professores estão a ser transformados em secretários para as estatísticas e baby-sitter para garantir o repositório de jovens nas Escolas.
E ainda temos, os comportamentos incivilizados de alunos com os paizinhos a bramir, irados por os meninos serem apontados, enquanto o contribuinte paga os atos de vandalismo nas Escolas. O bullying continua a ser um flagelo transversal a todos, alunos, funcionários e professores. O insucesso, é palavra proibida, a simulação, o fingimento e a hipocrisia são as palavras de ordem.
Sempre em mudança, a burocracia leva ao desespero e ao cansaço de quem trabalha nas Escolas. A constante alteração dos programas curriculares e planificações, assim como a “dança” de pessoal de Escolas para Escolas dentro do mesmo Agrupamento, muitas vezes, por obstinação das direções, obriga a um desgaste desnecessário aos docentes e funcionários. A imposição de quotas e as avaliações de desempenho criam movimentações antidemocráticas e promovem lambe-botas. Tudo isto, é mais lenha para incendiar uma maioria de professores e funcionários desmotivados e revoltados.As Aulas de Cidadania e de Educação Sexual ainda são mal vistas por uma sociedade conservadora e retrógrada. Ao contrário, um juiz que foi expulso da magistratura por ameaças, insultos a profissionais de saúde e forças de segurança, em janeiro, deu uma aula sobre direitos, liberdades e garantias para alunos e professores na Escola de Vale de Milhaços no Concelho do Seixal. Este homem, Rui da Fonseca e Castro, conhecido como negacionista da pandemia, que proibiu as máscaras e incentivou a violação das regras sanitárias, deu uma aula numa Escola – Isto é o cúmulo!
Mas a recuperação do tempo de serviço dos professores, perdidos em dois períodos, entre 2005 e 2017, não é o único motivo da insatisfação dos professores. O próprio modelo de ensino, a precariedade, o abuso da mobilidade com a “casa às costas”, a falta de democracia nas Escolas com um modelo diretivo autoritário e a falta de respeito para com todos os profissionais dos estabelecimentos de ensino, são motivos, mais do que suficientes para o grito de revolta. Infelizmente, neste problema que já é antigo, só agora, alguns, perceberam que é preciso dar a volta. Há falta de professores, a maioria envelhecidos e a carregarem com turmas de 28 alunos; há falta de funcionários e a grande maioria são muito mal pagos.
Sensato, seria uma recuperação faseada, proposta essa, que o PS e o PSD inviabilizaram em 2018. Os professores na Madeira e Açores, já viram e muito bem as suas pretensões garantidas, mas esta discriminação revolta os que estão no continente. Por isso, os professores pedem respeito e estão a dar uma lição de luta ao país, contra as falsas promessas.
Perante a prepotência e a teimosia do governo, é importante que os professores e funcionários estejam unidos e não desistam desta luta por uma Escola Pública com futuro. É importante que o sindicalismo de uma vez por todas se una; mas todos juntos, na defesa dos direitos de quem trabalha e há outras classes penalizadas. É preciso que os encarregados de educação percebam, que se está a lutar pelo futuro deste país e por melhores condições nas Escolas.
Os alunos estão a perder, o futuro do país está a atrasar-se. A grande possibilidade de se perder uma luta, é não lutar. Os professores estão a acreditar que é possível mudar com esta luta que é de todos, os que querem um país mais justo. Contudo, já há oportunismo político, até de quem nunca quis resolver nada, antes pelo contrário e por isso já se sente em marcha uma prematura campanha eleitoral. Mas nunca se esqueçam, se queremos mudança, já diz o povo: “para pior já basta assim”.
* Paulo Cardoso in10-02-2023) - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre