16.1.23

OPINIÃO: Volta "Geringonça" estás perdoada!

 
O termo política vem do grego antigo, “politeia,” que se referia a tudo o que se relacionava com a pólis e a organização da sociedade, daí o meu interesse pela política, porque me preocupo com estes assuntos. Ao contrário, oiço muitas pessoas dizerem que não gostam da política; em primeira análise poderia considerar que essas pessoas têm ideias anarquistas, mas isso seria um grau de evolução muito grande e, infelizmente sei que o apolítico não passa de um acrítico, muitas vezes, com tiques antissociais.
Esta introdução vem a propósito das recentes trapalhadas com as demissões no governo e que colocam muitas vozes a falar mal da política, dos políticos e a enfiarem todos no mesmo saco. Dão azo à demagogia dos antissistema, mas que são, mais do mesmo. Nas monarquias, governavam a seu belo prazer e podiam fazer tudo o queriam, deixando as pessoas na miséria e a serem exploradas; nas ditaduras como, também já tivemos, é do tipo come e cala.
Temos de saber o queremos, fazer escolhas e escrutinar quem governa. Temos de perceber que o ser humano é isto e se queremos melhor, temos de lutar e afastar quem se interessa pela coisa pública apenas por interesses pessoais. Não votei em Marcelo Rebelo de Sousa, mas estou de acordo, em que não se dissolve uma maioria absoluta pelos “casos e casinhos” do governo de Costa. Sou mais, daqueles que exigem explicações e medidas para evitar estas trapalhadas que atrofiam a vida de um país; sou dos que defende políticas dirigidas para todos e não só para alguns.
Numa vaga de favorecimentos, só podemos ter uma vaga de demissões. Acontece que hoje, em democracia, a censura tem muitas dificuldades em esconder, como acontecia no tempo do Estado Novo, com uma elite de políticos burgueses de braço dado com os donos disto tudo a dominar a seu belo prazer.
Nem as demissões, nem as jogadas partidárias, desviam as pessoas e o país do essencial. As dificuldades financeiras das pessoas aumentam e com isso a economia e a estabilidade social derrapam. Os problemas da saúde e da educação ao nível de meios humanos degradam-se dia após dia. E para resolver, o que ouvimos do governo? Privatizar Centros de Saúde e entregar mais competências às Câmaras, incluindo a gestão de professores. Já percebemos no que deu a privatização dos CTT e a forma como os municípios e as Escolas foram enganados com a municipalização do ensino e agora, a quererem a municipalização dos professores, com aparentes recuos. É lavar as mãos como Pilatos.
O problema maior está nos meios humanos e esses continuam a ser desconsiderados com novas técnicas de precariedade e congelamento de carreiras. Interessa aos privados que assim seja e não é por acaso que Partidos entre o PS e a direita, sejam financiados por grandes grupos económicos, oferecendo, também em troca, lugares de destaque a quem no exercício do poder os favoreceu. Os exemplos são muitos, de responsáveis pelos ministérios que depois passaram a integrar lugares de destaque nas empresas que favoreceram. Agora, felizmente, a lei não permite, pois não. Mas a ex-secretária de Estado, Rita Marques[1] veio mostrar que se pode violar a lei sem ser prejudicada.
Esta situação dá azo a que um partido que aposta na discriminação venha alegar que defende, representa as “pessoas de bem”. Então se querem regressar ao tempo das “boas famílias”, como querem governar e o que fazer com um país com tantas “más famílias”? Não é este o rumo de que Portugal precisa, não é a dividir e muito menos a discriminar. Com este estado de coisas, as pessoas ficam cegas de revolta e vão atrás destes charlatões da política.
Mas não pensem que é só na política que isto acontece. Seria exaustivo nomear as instituições, algumas de dimensão estratosférica, que integram pessoas que provocam sérios prejuízos na credibilidade dessas instituições. Infelizmente não é possível adivinhar e existem pessoas com uma grande habilidade em iludir quem nelas confia, mas não foi o caso destes últimos acontecimentos no governo PS de António Costa. Há manifesta falta de cuidado.
Tanto a desculpabilização, como a ocultação ou ignorância, são situações graves para quem tem obrigações para com um país e os “casos e casinhos” já tropeçam uns nos outros. Para termos estabilidade política, temos de exigir competência, respeito e ética. Afinal, se a maioria absoluta serve para produzir escândalos à vontadinha, volta geringonça que estás perdoada…
* Paulo Cardoso -13-01-2023 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre

[1] Agora administradora da The Fladgate Partnership