13.1.23

OPINIÃO: Um espinho na Democracia

 
Esta semana o país foi brindado com mais um caso de alegada corrupção por parte da classe política.
O caso é local, mas após tantas revelações que atingiram o elenco governativo sobre más práticas de gestão da coisa pública, e que deram origem a uma sucessão nunca vista de demissões, já nada do que possa envolver alegada corrupção política está limitada às fronteiras dos territórios.
Ao que se pode hoje apurar, foram detidos cinco arguidos, um deles o autarca socialista da Câmara Municipal de Espinho. Foi também noticiado, com igual destaque, que o atual vice-presidente da bancada parlamentar do PSD e ex-presidente da Câmara Municipal de Espinho se encontra sob investigação. Mas não foi detido, embora esteja em cima da mesa o levantamento da imunidade de que beneficia.
A verdade é que o que é dado a conhecer à opinião pública assenta numa perceção: a de que "são todos iguais". São todos iguais os partidos, são todos iguais os casos, ou mesmo são todos iguais os servidores públicos.
Este é em si o maior perigo que o espaço democrático moderado enfrenta. Porque o populismo vive da dúvida, da frustração, do engenho de simplificar o que é complexo numa comunicação rápida e direta. Esta é a mecânica política que assenta na rejeição das elites, e que por isso apregoa, cá dentro como lá fora: "somos antirregime". Não nos enganemos sobre o essencial. Para o populismo, o regime é o espaço moderado democrático, e para o derrubar dá um jeitaço misturar tudo.
Convenhamos, até pelos exemplos europeus e americanos, que a receita de bradar aos sete ventos com o pânico do regresso do fascismo (Suécia ou Itália) ou do regresso do radicalismo de Esquerda (Grécia ou Bolívia) não funcionou lá muito bem. Enquanto foi esse em exclusivo o caminho, símbolos da Democracia, como o Capitólio norte-americano ou recentemente a Praça dos Três Poderes, foram violentamente agredidos.
Cabe à política dar futuro às expectativas dos povos, dar explicação ao cansaço e à frustração.
Cabe à justiça ser justa, rápida e implacável para com a prevaricação na coisa pública.
O que não pode caber é misturar só porque dá jeito e é fácil.
* Domingos de Andrade in Jornal de Notícias - 12/1/2023

IMAGEM - A razão maior - Cartoon de Henrique Monteiro in https://henricartoon.blogs.sapo.pt