26.12.22

OPINIÃO: Emojis secretos, cortes e lágrimas

Há uma linguagem secreta dos emojis que os adolescentes usam para comunicar sobre temas tabu.
O alerta foi lançado esta semana pelas autoridades britânicas, que divulgaram uma lista com o significado oculto de ícones aparentemente inofensivos usados em conversas sobre drogas e sexo. Uma folha ou um cacho de uvas pode ser sinónimo de haxixe, um nariz pode representar cocaína e um extraterrestre pode ser ecstasy.
Não se sabe se, por cá, os jovens também recorrem a códigos para falar de sexo e drogas, mas há indicadores que devem preocupar os educadores. Esta semana, foram conhecidos dados que revelam que 60% dos portugueses com 18 anos jogam online e 20% fazem apostas a dinheiro. Um inquérito do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, que envolveu mais de 70 mil jovens, conclui ainda que seis em cada dez passam mais de quatro horas por dia em atividades online.
Recentemente, outro estudo da Organização Mundial de Saúde revelou que os adolescentes portugueses entre os 11 e os 15 anos estão infelizes, tristes, nervosos, irritados, pouco satisfeitos com a vida - com a pandemia a agravar vários indicadores. Mais preocupante: um em cada quatro já se feriu de propósito pelo menos uma vez, provocando cortes, queimaduras ou outro tipo de lesões.
A adolescência é, na maioria dos casos, um período de saudável descoberta e de exploração dos limites de que saímos geralmente incólumes. Mas nem sempre é assim. E os sinais de alerta - isolamento familiar e social, alteração de padrões de alimentação e sono, mudanças de humor, maior irritabilidade ou cansaço, quebra no rendimento escolar, entre outros - nem sempre são devidamente valorizados.
Não, não se sugere uma atitude de desconfiança ou qualquer investigação aos telemóveis dos filhos. Conversar sobre temas íntimos e fraturantes é exigente em qualquer idade, conseguir que um adolescente partilhe o que sente pode ser mais difícil do que abrir uma ostra. Mas é possível iniciar uma conversa franca, partilhar preocupações e medos, ouvir sem julgar, compreender e estabelecer limites saudáveis. Um desafio para estes dias em que passamos mais tempo em família.
* Helena Norte in Jornal de Notícias - 26.12.2022