Os debates quinzenais na Assembleia da República também podiam passar do Parlamento para o Twitter, onde se podem fazer as perguntas e dar as respostas. Ser popular, viral, ter alcance, fazer scroll ao que não interessa e evitar o confronto. É mais cómodo.
Há políticos, cá dentro e pelo resto do Mundo, que o fazem muito bem. Verdadeiros especialistas em social media. Se Rui Rio não "tem particular interesse em ser deputado", conforme o afirmou antes das últimas legislativas, não é surpreendente que também tenha liderado o processo para o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro. Nem que não tenha perguntado aos deputados eleitos pelo seu partido o que pensam sobre esta alteração do regime da Assembleia da República. É normal. Quem compara empresas de Comunicação Social a empresas de móveis, pode confundir também a casa da democracia com outra coisa qualquer.
Já o argumento de que os debates quinzenais estão pensados, não para esclarecer nem para escrutinar o Governo, mas para a política espetáculo, sustentado pelo secretário-geral do PSD, José Silvano, também não convence. Os palcos dos espetáculos, sobretudo os maus, têm sido mais do que muitos. Mais inesperada é a posição socialista. Percebe-se o esforço da líder parlamentar para minimizar as divisões na sua bancada, mesmo depois de o grupo de deputados ter chumbado uma proposta do antigo ministro socialista Jorge Lacão para manter os debates com o primeiro-ministro.
As razões de uns e outros não evitam as divisões internas. Vão ter de conviver com elas no futuro. E não sabemos se contribuem para o desinteresse geral pela vida política, para as elevadas taxas de abstenção e para a indiferença dos mais novos. O tempo o dirá. Hoje, debate-se o estado da nação, o maior escrutínio parlamentar à atividade do Executivo. O país mudou desde o último debate, o Parlamento também. Resta saber em que sentido.
Manuel MOlinos in "Jornal de Notícias" - 24/7/2020Cartoon de Henrique Monteiro - A nova casa - in https://henricartoon. blogs.sapo.pt