Estes, se não eram os “melhores queijos do Mundo” (nunca
foram a nenhum concurso mundial) andavam-lhe à roda. Pelo menos, feitos com
amor e com os condimentos próprios de um queijo de excelência e de um produto
local (regional) sempre em destaque e devidamente premiado, pelo aroma, pelo
sabor, pela textura e, se me permitem, pela Verdade. Eram assim os verdadeiros
Queijos de Nisa, antes de os interesses políticos e empresariais se sobreporem
aos interesses de quem, laboriosamente, conferia a este produto alimentar um
padrão de extrema qualidade e um dos ex-libris desta região das areias. Uma
autêntica bandeira e cartaz do que Nisa tinha de melhor e mais orgulhava as
suas gentes.
Há anos escrevi um texto sobre o Queijo de Nisa. Melhor,
sobre o queijo que com essa chancela já não existia em Nisa. Era um artigo
crítico, algo contundente, mas o “dono dos produtos regionais” ou não reparou
nele ou fingiu que não leu...
Hoje, não “volto à carga”! Esse tempo
já passou. Mas vou reparando nos exercícios de retórica, no contorcionismo
político para associar o poder a um produto alimentar que deixou, há muito, de
ser o que era.
O Queijo de Nisa, feito aqui, ali ou
acolá e aproveitando a designação que com tanto sacrifício e não menos
desilusões foi concretizada com a Região Demarcada (e estendida, segundo
interesses específicos) não é um “pneu de tractor”, nem uma receita de
marketing barato e de festival pimbólico.
É um produto alimentar, devidamente
caracterizado e com um nome a defender. Um nome, o de Nisa, que envolve muitas
e muitas gerações de pastores e proprietários agrícolas que lhe foram
conferindo, sem falcatruas e com verdade, uma tipologia, um sabor único e uma
qualidade incontestável.
Tenho em minha casa, um caderno
escrito pelo bom amigo Dr. José Carrilho Ralo, já falecido, sobre o Queijo de
Nisa. São considerações, passadas para o papel – e, posso, dizê-lo, em
exclusivo para o Jornal de Nisa – de um perito sobre agricultura e sobre a queijaria
tradicional. Textos que foram publicados tanto no JN como no “Notícias de
Castelo de Vide” e que mostram, com toda a clareza, a extraordinária fama de
que gozavam os “Queijos de Nisa”, mesmo comparados com os de outras regiões não
menos afamadas, do país e a Europa.
O Ronaldo para ser o “melhor do
Mundo” (e há quem não aceite esta classificação) teve que mostrar, em cada época,
os seus atributos, a qualidade dos seus talentos, a entrega como atleta, a
superação de objectivos técnicos e físicos, a “barreira” que separa um
futebolista muito bom, de um desportista excepcional.O Queijo de Nisa tem uma tipologia
própria. Não é “todo o queijo que é feito em Nisa ou no concelho” e, de acordo
com o que se conhece, não prestou provas em nenhum concurso mundial para poder
ostentar um título ou slogan publicitário, em forma de roda de tractor, para
enganar incautos.
A publicidade bem feita, vende por
si. Está na qualidade intrínseca do produto, não precisa de propaganda gratuita
e destemperada, pois como diz o povo, “o que é demais também aborrece!”.
E chateia ainda mais quando
associada aos interesses políticos de circunstância.
Mário
Mendes