Chama-se Adelino Alves, tem 68 anos e é o actual responsável
pelo transporte de passageiros entre as duas margens do rio Tejo, no local
denominado Barca de Amieira. Para melhor conhecer a sua profissão fomos procurá-lo.
Eis o que nos disse:
Amieirense – Há quanto tempo exerce esta profissão?
Barqueiro – Há cerca de 4 meses, mas já cá estive 6 anos, outros 3
por conta da Câmara.
Amieirense- Que diferença nora entre hoje e antigamente?
Barqueiro – A principal é que há menos passageiros. As pessoas
preferem a camioneta, além de que dantes havia trabalho, vinha pessoas dos Montes
e de outros lados, passavam-se carros. Agora é mais perigoso devido à Barragem
do Fratel pois o Tejo nunca leva o mesmo caudal.
Amieirense – Quais as principais dificuldades por si sentidas?
Barqueiro – É um trabalho fácil, dantes era mais difícil, pois era
preciso manejar a barca, agora até se torna um trabalho “chato”, não se vê
vivalma. As maiores dificuldades é ter que vir todos os dias para cima e para
baixo, e eu já tenho uma idade avançada. Sempre são 6 quilómetros ! O que
se podia fazer era uma casa aqui no Tejo para o barqueiro...
Amieirense - É uma profissão com futuro? Garante-lhe a subsistência?
Barqueiro – Não tem grande futuro, pois os passageiros são poucos, se
eu pescasse podia ter algum rendimento, mas assim só com o dinheiro das
barcagens e o subsídio da Câmara não dá.
Não garante a subsistência, mas eu sou reformado e sempre
ajuda. Isto só dá prejuízo.
Amierense – Mas não acha que é importante para Amieira?
Barqueiro– Embora eu agora passe pouca gente, nas épocas festivas é
que há mais, sempre é importante, pois Amieira está praticamente isolada. Só
temos uma camioneta que sai de manhã e retorna à noite.
Amieirense – Tem tanto tempo livre, como se ocupa?
Barqueiro – No Verão contemplo a paisagem e sempre posso falar com
alguém há sempre a tomar banho, durmo a sesta, estendo-me no bote, ao sol, ando
às enguias, pesco, etc.
Dir-nos-ia ainda que mesmo com as cheias, de dia não há
perigo nenhum. À noite, porém, torna-se muito perigoso. “O Amieirense” deseja-lhe felicidades no seu trabalho.
O Amieirense – Dezembro de 1983