AS SORTES
Em Nisa, o dia das sortes
Alegra a rapaziada
Rua abaixo, rua acima
Vão dando a sua alvorada.
Atrás de uma concertina
Neste dia sempre é festa;
Ao fim de um ano já dizem:
“Ai, que triste vida esta!”
Tocam numa pandeireta
Rua abaixo, rua acima;
E vão dançando e cantando,
Ao toque da concertina.
Com uma fita encarnada
Dão o sinal de apurado;
Passa a vida a ser diferente
Nessa vida de soldado.
Todos eles dão um baile,
A toda a rapaziada,
E cada qual,
satisfeito,
Leva a sua namorada.
Dão aos noivos lindas prendas
Para as sortes ir tirar;
Eles compram-lhes vestidos,
Para o baile os levar.
Todos os que tiram sortes
Têm uma para dançar;
E os que vêm estão
Os fatos, a apreciar.
Qual o vestido mais lindo
Todo o povo está a ver;
E algumas mais pobrezinhas
Sem ter pão para comer.
Andam todas satisfeitas
Com as prendas oferecidas;
E gente cá fora a ver
As que ficam mais bonitas.
Todos eles com seus pares,
Eu gosto de os ver dançar
Passos-dobles, corridinhos
E um bom jazz a tocar.
Tudo com trajos modernos
Calças à boca de sino;
Com fatos de várias cores
Faz-se assim um rapz fino.
E as cachopas também
Trajam de toda a maneira;
O que elas poupam nos fatos
Vão dá-lo à cabeleireira.
Agora – ouvi dizer –
A moda é andar descalço
Já não sabem que hão-de usar
Mas isto deve ser falso.
Rapaziada das sortes
Não tenham a fé perdida
Porque a tropa para muitos
Dá-lhes pão e dá-lhes vida.
Para todos, bom ou mau
O destino está marcado;
Deus lhes dê saúde e sorte
Nessa vida de soldado.
Maria Pinto
Na foto: Jovens nisenses nascidos em 1953