Quando percorremos um caminho árdua, acorrentados a uma vida sem futuro,
desprezando o passado e não vivendo o presente, para que nos serve esse mesmo
caminho em direcção a coisa nenhuma?
E, nesse momento, olhando para nós próprios, ou para alguém que nos
aponta o dedo, somos levados a reflectir, e não gostamos da imagem, que se
encontra projectada no espelho.
É dessa imagem real, que hoje vos venho falar, a imagem de um país
perdido, algures no sul da Europa que vive encostado a uma imaginária união
europeia, com a qual caminha de mão dada, para um “vazio” político, económico e
social, fruto do crescimento das suas políticas neoliberais.
Quando do outro lado do Atlântico (Estados Unidos da América) somos
vistos pela sua imprensa – New York Times de 29/11/2013, como um país com um
povo em vias de extinção, vivendo uma vida de subsídio-dependente, agarrados à “mama”
da União, tal como o burro mirandês, que também ele, ainda vive graças à
generosa e benemérita União Europeia.
Que mais podemos acrescentar a esta eloquente analogia, descrita na
primeira página de tão influente jornal internacional?
E, nesta mesma semana, em que nos comparam com tão ilustre jumento mirandês,
animal de carga, que servia de apoio na agricultura rudimentar e arcaica deste
povo luso, chega-nos a notícia em forma de alerta do primeiro-ministro belga,
Elio Di Rupo, para o grave problema laboral que está a afectar todo o sector da
construção civil daquele país, fomentado principalmente, por trabalhadores
portugueses, que estão a ganhar a 2 euros à hora, provocando assim, um dumping
social, num país onde o salário mínimo é de € 1.440,67 por mês.
Mais uma vez, servimos de mau exemplo, de verdadeiros asnos, ao dispor do
seu dono, fazendo e carregando o que outros não querem, e nem estão dispostos a
executar, por um valor desqualificante.
É, mais uma vez na dureza dos tempos, embalados pela sinfonia da crise
que passa em rodapé nos telejornais diários, e que lançam este povo para a
emigração forçada, quase escrava, numa Europa sem valores, que os espezinha e
subjuga a qualquer custo.
Tal como dizia, em 1896, Augusto Fuschini, - aconselho a sua leitura –
no seu 1º volume de memórias, (...) “Na Europa não existe povo mais ignorante e
desprezado do que o infeliz povo português. Diz-se que os povos têm os governos
que merecem. Esses quatro milhões de analfabetos, que, em geral, vivem puxando
rudemente pelo cabo da enxada, ou mergulhados na atmosfera insalubre das
oficinas, mal pagos, mal protegidos, explorados, ainda, pelo fisco, tendo às
dezenas de milhares de emigrar cada ano em busca de condições sociais menos
aflitivas” (...) já nesse tempo a descrição deste infeliz povo era assim exposta,
e parece nada ter mudado, neste pequeno, pobre e cada vez mais desertificado e
envelhecido país, apenas mudaram as tarefas do jumento, ou melhor foram
requalificadas.
Sinais do tempo, de um tempo que perde tudo, de uma forma rápida e
instantânea, sem nos apercebermos, até mesmo quando se está prestes a perder um
dos grandes símbolos da ignorância, que é o burro!.
José Leandro Lopes Semedo
Cartoon de Henrique Monteiro in http://henricartoon.noticias.sapo.pt