Finalmente, devido a contingências várias, completei a
leitura desta obra, quase três anos após ter iniciado a leitura.
Um dos fatores que terá atrasado esta leitura e não
displicente foi o fato de ter mais tempo para saborear a intriga, o romance, a
trama, as frases, palavra a palavra do manancial escrito.
De fato, para mim, foi uma das melhores obras que me foi dado
ler nos últimos tempos.
e sobre ela o que poderei dizer mais que é uma delícia?
Pouco ou nada, tudo o que acrescentar venha só lhe retirará
valor…
Poderei dizer que estamos perante uma obra que representará
para a turquia e o oriente o que representou para o cânone literário ocidental
"o nome da rosa" de Umberto Eco. e as afinidades são algumas. Apenas
afinidades. Também esta obra coloca em confronto duas visões do mundo: a
(pretensa) visão de deus e o modo de ver profano, humano.
Quando todo o ocidente europeu vivera o choque
renascentista, se humanizou e se prepara já para enfrentar as luzes, temos uma Istambul, capital do império otomano, que se prepara para as celebrações do
milénio (em anos lunares) da Hégira e cujos pintores se encontram perante o
desafio a aceder a uma nova pintura, humana, como se
pratica no ocidente e lhes
chegam notícias sobretudo através dos contactos com Veneza, e o apelo da
tradição que manda pintar do mesmo modo, a visão de deus, as coisas mundanas.
É um conflito duro, de levar à morte e perante o qual
ninguém pode ter certezas sobre nada.
E é quanto a mim a principal dádiva que este romance fresco
nos oferece: a dúvida.
Dúvida de como devemos dirigir a nossa vida, dúvida nas
escolhas culturais a fazer, dúvida até perante o objeto do amor e que se ama.
Alegremo-nos, os tempos dos bons romances estão de regresso.
Jaime Crespo
NR: Ferit Orhan Pamuk, conhecido apenas como Orhan Pamuk
(Istambul, 7 de Junho, 1952), é um romancista turco. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 2006. É
professor de literatura da Universidade Columbia. Pamuk é um dos mais
proeminentes escritores da Turquia, e seus trabalhos foram traduzidos em mais
de cinquenta línguas. Ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais. Em 12
de outubro de 2006, tornou-se a primeira pessoa da Turquia a receber um Prémio
Nobel.
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