Não sei bem, perdi na arca da memória...
Mas andaria pelos 4, 5 anos de idade.
Estava hospitalizado afetado por uma encefalite aguda.
Todos os dias e todas as noites só. Completamente só.
Só as enfermeiras e, de quando em vez, o médico que prometia sempre que
no dia seguinte me deixaria regressar a casa.
Por vezes, à noite enquanto fingia dormir e enganava assim o cansaço,
ouvia chegar as enfermeiras, alegres e felizes, voltando ao hospital de uma
noite bem passada, talvez com os namorados. quem sabe lá?
Uma tarde, porém, tive um pressentimento e rapidamente me voltei na
direção da janela. Lá estava, brilhante, mas sem tempo de disfarçar o choro em
sorriso, o rosto de minha mãe.
Levantei-me a gritar: "-leva-me daqui!".
Mas ao chegar à janela já não a vi. Apenas um ligeiro aceno de adeus e
os lábios desenhando um beijo no frio vidro pelo qual passei a mão incansável,
até que uma enfermeira, talvez alertada pela gritaria me pegou, com mais
carinho que força, e levou de novo para a cama.
Naquele dia, morri.
Afogado nas ondas do mar, dos olhos de minha mãe.
Jaime Crespo
(Hoje, 8 de Dezembro, é o Dia da Senhora da Conceição, durante muitos anos, o Dia da Mãe.)