Ao longo da história da humanidade nunca se produziu tanto
com tão poucos meios. De fato a industrialização, os progressos tecnológicos
permitem que atualmente se produza mais que as necessidades humanas exigem.
Acompanhando esse desenvolvimento, os direitos sociais e
humanos tem retrocedido. Por um lado, são necessários menos trabalhadores,
muito menos, para desempenhar as tarefas que hoje são efetuadas por máquinas,
supervisionadas por computadores e até por robôs, aumentando em consequência o
desemprego, a instabilidade e o mau estar geral. Por outro lado, este aumento
de produção e consequente criação de riqueza, concentra-se cada vez em menor
número de mãos e essas não estão dispostas a abrirem-se para deixarem cair os
cêntimos que seriam necessários para manter um bom nível de vida, vá pelo menos
um nível de vida satisfatório a toda a população.
Numa dimensão de geoestratégica política, este estado de
coisas leva a que países mais pequenos ou de menor influência política, sejam
obrigados a reduzir, ou até mesmo a deixar por completo, de produzir para que
os seus produtos não compitam com os das multinacionais, perdendo assim, a sua
independência económica e política, passando a depender da “caridade” dos
países economicamente mais fortes, aqueles onde as multinacionais estão
sediadas.
As economias e as políticas nacionais são hoje, graças a
este sistema económico, uma farsa, mesmo nos países considerados potencias, E.U.A., Alemanha, Grã-Bretanha, etc., só por ironia podemos pensar que os seus
governantes tomam decisões pela sua cabeça e a bem do povo. Toda esta gente
trabalha para o polvo que é o grande capital financeiro, constituído em
multinacionais da economia, da especulação, do tráfico (de pessoas, de armas,
de droga). numa palavra: estamos nas mãos de mafiosos sem escrúpulos que se
servem de nós a seu belo prazer.
O velho ditado de que “quem não trabalha, não come” já não
é aplicável aos dias que correm, pois o trabalho perdeu o seu valor moral e
deixou de ser considerado um direito e um dever para passar a ser considerado
um privilégio, ao qual apenas alguns abençoados têm acesso, mas acesso
condicionado a um contrato altamente desvantajoso para o trabalhador que
praticamente lhe retira todos os direitos e lhe aumenta os deveres.
Mas se é assim, se a produção, a nível mundial, é a maior de
sempre, então de onde vem a famigerada crise que a todos nos atira para a
depressão e o stresse, para a miséria?
Vem essencialmente de dois lados: dos mercados financeiros
especulativos, os capitalistas na sua ganância sem tréguas, recusam-se a pagar
os impostos devidos e que deveriam mesmo ser aumentados por uma questão de
solidariedade para com as pessoas que vão ficando sem emprego em nome do
progresso, portanto o desaparecimento do sentido de solidariedade e cujo é
fator agregador de uma sociedade, preferindo dar vazão à sua ganância e aplicando
esse dinheiro (muitos milhões) em jogos especulativos e que não criam riqueza
real, assim desbaratando fortunas e o dinheiro que deveria constituir o fundo
de solidariedade social. Por outro lado, a propaganda que todos somos sujeitos
a cada milésimo de segundo através dos mídia, todos nas mãos dos mesmos grupos
económicos, encomendada pelos especuladores da finança, leva-nos a acreditar
que a crise existe, que está tudo muito difícil, os coitadinhos dos patrões têm
que pagar o seu dinheirinho todo em impostos, o estado é um ladrão que rouba e
não paga as suas dividas para com os empresários. A “Laranja Mecânica”, de Kubrick ou o “Big Brother”, de Orwell há muito que foram ultrapassados e
vivemos a época dourada do “triunfo dos porcos”. Nunca o popular dito “uma
mentira muita vez repetida passa a ser verdade”. De fato a mentira continua a
sê-lo, apenas devido à sua difusão pela mídia, acaba por intoxicar a “opinião
pública” que passa a engolir como verdade o que de fato é mentira. A mentira
assim espalhada é uma peste, como dizia Wilhem Reich, que alastra e toma conta
das nossas vidas, limita os nossos movimentos, condiciona as nossas decisões.
E assim, todos passamos a crer e a adorar uma nova
divindade: a crise.
A mentira económica e financeira que hoje é espalhada por
todo o mundo, a base falsa em que assentaram os mercados: especulação
financeira, em detrimento do reinvestimento, da solidariedade e da criação e
aumento da riqueza enquanto bem comum a toda a humanidade, mas a sua
privatização e concentração em cada vez menor número de mãos: eis senhores, a
origem do mal!
Jaime Crespo