31.12.13

CRÓNICAS DO REGABOFE (12): A origem do mal ou de como as nossas vidas foram tomadas por mafiosos sem escrúpulos

Ao longo da história da humanidade nunca se produziu tanto com tão poucos meios. De fato a industrialização, os progressos tecnológicos permitem que atualmente se produza mais que as necessidades humanas exigem.
Acompanhando esse desenvolvimento, os direitos sociais e humanos tem retrocedido. Por um lado, são necessários menos trabalhadores, muito menos, para desempenhar as tarefas que hoje são efetuadas por máquinas, supervisionadas por computadores e até por robôs, aumentando em consequência o desemprego, a instabilidade e o mau estar geral. Por outro lado, este aumento de produção e consequente criação de riqueza, concentra-se cada vez em menor número de mãos e essas não estão dispostas a abrirem-se para deixarem cair os cêntimos que seriam necessários para manter um bom nível de vida, vá pelo menos um nível de vida satisfatório a toda a população.
Numa dimensão de geoestratégica política, este estado de coisas leva a que países mais pequenos ou de menor influência política, sejam obrigados a reduzir, ou até mesmo a deixar por completo, de produzir para que os seus produtos não compitam com os das multinacionais, perdendo assim, a sua independência económica e política, passando a depender da “caridade” dos países economicamente mais fortes, aqueles onde as multinacionais estão sediadas.
As economias e as políticas nacionais são hoje, graças a este sistema económico, uma farsa, mesmo nos países considerados potencias, E.U.A., Alemanha, Grã-Bretanha, etc., só por ironia podemos pensar que os seus governantes tomam decisões pela sua cabeça e a bem do povo. Toda esta gente trabalha para o polvo que é o grande capital financeiro, constituído em multinacionais da economia, da especulação, do tráfico (de pessoas, de armas, de droga). numa palavra: estamos nas mãos de mafiosos sem escrúpulos que se servem de nós a seu belo prazer.
O velho ditado de que “quem não trabalha, não come” já não é aplicável aos dias que correm, pois o trabalho perdeu o seu valor moral e deixou de ser considerado um direito e um dever para passar a ser considerado um privilégio, ao qual apenas alguns abençoados têm acesso, mas acesso condicionado a um contrato altamente desvantajoso para o trabalhador que praticamente lhe retira todos os direitos e lhe aumenta os deveres.
Mas se é assim, se a produção, a nível mundial, é a maior de sempre, então de onde vem a famigerada crise que a todos nos atira para a depressão e o stresse, para a miséria?
Vem essencialmente de dois lados: dos mercados financeiros especulativos, os capitalistas na sua ganância sem tréguas, recusam-se a pagar os impostos devidos e que deveriam mesmo ser aumentados por uma questão de solidariedade para com as pessoas que vão ficando sem emprego em nome do progresso, portanto o desaparecimento do sentido de solidariedade e cujo é fator agregador de uma sociedade, preferindo dar vazão à sua ganância e aplicando esse dinheiro (muitos milhões) em jogos especulativos e que não criam riqueza real, assim desbaratando fortunas e o dinheiro que deveria constituir o fundo de solidariedade social. Por outro lado, a propaganda que todos somos sujeitos a cada milésimo de segundo através dos mídia, todos nas mãos dos mesmos grupos económicos, encomendada pelos especuladores da finança, leva-nos a acreditar que a crise existe, que está tudo muito difícil, os coitadinhos dos patrões têm que pagar o seu dinheirinho todo em impostos, o estado é um ladrão que rouba e não paga as suas dividas para com os empresários. A “Laranja Mecânica”, de Kubrick ou o “Big Brother”, de Orwell há muito que foram ultrapassados e vivemos a época dourada do “triunfo dos porcos”. Nunca o popular dito “uma mentira muita vez repetida passa a ser verdade”. De fato a mentira continua a sê-lo, apenas devido à sua difusão pela mídia, acaba por intoxicar a “opinião pública” que passa a engolir como verdade o que de fato é mentira. A mentira assim espalhada é uma peste, como dizia Wilhem Reich, que alastra e toma conta das nossas vidas, limita os nossos movimentos, condiciona as nossas decisões.
E assim, todos passamos a crer e a adorar uma nova divindade: a crise.
A mentira económica e financeira que hoje é espalhada por todo o mundo, a base falsa em que assentaram os mercados: especulação financeira, em detrimento do reinvestimento, da solidariedade e da criação e aumento da riqueza enquanto bem comum a toda a humanidade, mas a sua privatização e concentração em cada vez menor número de mãos: eis senhores, a origem do mal!
Jaime Crespo