5.10.21

OPINIÃO: Que mudanças vamos ter?

 
Nem com o crescimento dos movimentos independentes, nem com o aparecimento de novos partidos denominados de protesto, se evitou mais uma preocupante abstenção no recente ato eleitoral autárquico. O argumento de que as pessoas estão fartas da política e dos políticos, deve ser substituído pela explicação de que afinal, as pessoas não têm uma atitude consciente. Afinal, todos somos responsáveis pelos políticos e pelas políticas que temos.
O PS manteve a supremacia autárquica, mas contra as expectativas perde Lisboa; Rui Rio teve assim a sua tábua de salvação dentro do PSD que não cresce, com o CDS à boleia e ambos ganham ânimo. A CDU a precisar de renovação e o Bloco à procura de afirmação, são os principais derrotados; enquanto o Chega, apesar de não ter atingido os objetivos, consegue um bom arranque no plano autárquico.
Estas autárquicas ficaram marcadas em todo o país por temas nacionais e menos locais, com o 1.º Ministro a disparar a “bazuca” por todo o lado. A questão, é se a “bazuca” vai estar ao alcance de todos com a mesma intensidade. Porque para o distrito de Portalegre, a tendência é ficarmos esquecidos.
Não falem em descentralização e regionalização, se este distrito continuar nesta pobreza de acessibilidades e esvaziamento de serviços públicos. Os portalegrenses vão a Évora, Castelo Branco e Lisboa tratar da sua saúde e deixam nessas terras os seus gastos a contribuírem para as economias dessas localidades. Sem inversão da situação e sem investimento público, só nos resta definhar.
Na qualidade de dirigente associativo, reuni com as candidaturas do PSD/CDS e do PS; falei pessoalmente com os candidatos do Chega e com o candidato da CDU. Do ponto de vista pessoal e com a experiência política que tenho, li todos os programas e não existem dúvidas das boas intenções de todos os candidatos, que defendem Portalegre no essencial.
CLIP e PS insistiram mais na vinda de investimento para Portalegre, o PSD/CDS na organização da cidade, a CDU, na democratização do exercício camarário e unir as forças vivas locais; enquanto o candidato do Chega a destoar de André Ventura, distribuiu simpatia e muita vontade de mudar o concelho, que acusa estar assim por culpa do sistema, que acusa ser responsabilidade da esquerda; o que lhe faz jus à sua declaração de que não é político, pois revela desatenção…
O candidato do Bloco, desconhecido e pouco visto, apesar de estar há sete anos à frente dos destinos do BE distrital, alinhou pelo diapasão nacional ao falar mais de problemas nacionais do que locais. Apontou o objetivo de querer ser eleito vereador com a maior votação de sempre, mas apenas conseguiu o pior resultado de sempre do BE em Portalegre.
De propostas para Portalegre nada de novo e muito menos, destemidas. Gostava de ter ouvido falar em aproveitar dignamente as majestosas instalações do Clube de Ténis na Marrada Alta e ligar à Quinta da Saúde; transformar a Quinta Formosa num Parque Cultural de Lazer e Merendas; a Piscina Municipal reformulada com um bom serviço de restauração e com atividades culturais, promovendo inclusive os nossos artistas.
É necessária, uma carta da restauração para garantir oferta aos visitantes, um roteiro turístico em sintonia com o restante distrito, destacando além da nossa gastronomia e natureza, a riqueza de um produto nosso, único no mundo, as Tapeçarias de Portalegre. Tudo isto, dava vida à cidade, captava visitantes, investimentos e melhorava a vida de quem cá vive. É preciso arregaçar as mangas e unidos, mostrar esta linda cidade ao mundo.
Claro que precisamos do comboio na zona industrial, do IC 13 concluído, de ligações decentes à A6, A23 e a Elvas. Temos de ter atração e condições de receber os que vêm de fora e condições para quem cá vive. Como autarquia temos a receita mais baixa a nível nacional e recordo que, também nos financiamentos é assim e sempre assim foi. Que o digam, os obscuros, PIDDAC’s [1], que sempre deixaram Portalegre para trás, quer por governos PS, quer PSD/CDS.
Parabéns ao PSD e ao CDS e à vencedora Fermelinda Carvalho, pela vitória em Portalegre. Defendo que o problema de Portalegre não são os presidentes, mas sim, o abandono por parte dos governos e dos modelos políticos errados. Acontece que desde 2001, há duas décadas, Portalegre é governado à direita do PS e assim vai continuar. Agora é preciso perceber que mudanças vamos ter…
Nota: Não foi referido na emissão da Rádio Portalegre, mas sempre defendi uma Escola Superior de Artes em Portalegre.

Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 1/10/2021