3.10.21

OPINIÃO: Raspadinha da proibição

 
Não são precisos muitos estudos ou investigações para percebermos que as raspadinhas estão a tornar-se um vício preocupante em Portugal.
Em cada esquina conseguimos ter essa perceção. Os números também não enganam. Portugal é o país da Europa onde se gasta, em média por pessoa, mais dinheiro em raspadinhas. Cada português despende 160 euros por ano, dez vezes mais do que em Espanha. Em abril, os psiquiatras alertaram, no "Jornal de Notícias", que a dependência deste jogo cresceu "muitíssimo" e comparam-no ao álcool. Nessa altura, a Segurança Social também referenciou casos para tratamento.
PCP, PAN e a deputada não inscrita Cristina Rodrigues querem agora proibir a publicidade a jogos e apostas, entre as 7.00 e as 22.30 horas, independentemente do meio onde é exibida. Já o Bloco de Esquerda pretende impedir qualquer anúncio ao popular jogo da Santa Casa da Misericórdia.
Mas será que proibir ou condicionar a publicidade às raspadinhas resolve um problema que está à vista de todos? Percebe-se a preocupação destes partidos. Mas as propostas contêm alguma demagogia e muito pouco sentido prático. Por exemplo, como se condicionam algoritmos que executam operações complexas que definem quais e que conteúdos de marcas comerciais os utilizadores devem receber, especialmente no Google e nas redes sociais?
Numa sociedade que se quer livre, é preciso que as pessoas sejam bem informadas. E esse devia ser o primeiro papel do promotor deste jogo ou de qualquer outro. Seria bem mais interessante que as propostas dos partidos se centrassem nas ações e aplicação das verbas que a Santa Casa da Misericórdia canaliza para políticas de consciencialização dos apostadores.
Não são as proibições que fortalecem as sociedades. O que a realidade nos tem dito é que é melhor educar do que proibir.
Manuel Molinos in Jornal de Notícias