19.10.25

OPINIÃO: Amor de máquina

 


Bem-vindos ao mundo digital. Ou melhor: bem-vindos ao mundo digital erótico. O ChatGPT anunciou que os utilizadores adultos da ferramenta vão conseguir ter conversas eróticas com inteligência artificial a partir de dezembro. Como é natural, a declaração abriu rapidamente a discussão sobre os limites éticos e sociais da interação entre humanos e máquinas.

Muitos questionam até que ponto a inteligência artificial se deve envolver nas questões de intimidade, levantando preocupações sobre o impacto psicológico e a eventual substituição de relações humanas por laços artificiais. Daí até cenários onde seres humanos namoram e casam com chatbots e personagens perfeitas criadas por IA foi um instante.

Trata-se de uma expansão natural da experiência humana com o digital? Ou é um reflexo de que estamos cada vez mais solitários e que procuramos relações fisicamente distantes, sem qualquer risco e contrariedade, um pouco à semelhança do que aconteceu com as redes sociais?

Hoje inventar um namorado ou criar um parceiro para toda a vida já é uma realidade. Não faltam sites e apps. Já há tops dos melhores companheiros virtuais! Estas plataformas têm, porém, algo em comum: apostam na permanência das pessoas. Quanto mais tempo estiverem online, mais dados são recolhidos. E estes dados são muito, mas muito lucrativos.

Como em todos os avanços tecnológicos, as ferramentas trazem vantagens e desvantagens. Mas, quando alguém se sente mais confortável a envolver-se emocionalmente com máquinas do que com pessoas, as preocupações fazem todo o sentido. Especialmente, quando há alguém a enriquecer com sentimentos. A intimidade não pode ser transformada em produto.

·         Manuel Molinos – Jornal de Notícias - 17 de outubro, 2025