Muitos questionam até que ponto a inteligência artificial se deve envolver
nas questões de intimidade, levantando preocupações sobre o impacto psicológico
e a eventual substituição de relações humanas por laços artificiais. Daí até
cenários onde seres humanos namoram e casam com chatbots e personagens
perfeitas criadas por IA foi um instante.
Trata-se de uma expansão natural da experiência humana com o digital?
Ou é um reflexo de que estamos cada vez mais solitários e que procuramos
relações fisicamente distantes, sem qualquer risco e contrariedade, um pouco à
semelhança do que aconteceu com as redes sociais?
Hoje inventar um namorado ou criar um parceiro para toda a vida já é
uma realidade. Não faltam sites e apps. Já há tops dos melhores companheiros
virtuais! Estas plataformas têm, porém, algo em comum: apostam na permanência
das pessoas. Quanto mais tempo estiverem online, mais dados são recolhidos. E
estes dados são muito, mas muito lucrativos.
Como em todos os avanços tecnológicos, as ferramentas trazem vantagens
e desvantagens. Mas, quando alguém se sente mais confortável a envolver-se
emocionalmente com máquinas do que com pessoas, as preocupações fazem todo o
sentido. Especialmente, quando há alguém a enriquecer com sentimentos. A
intimidade não pode ser transformada em produto.
·
Manuel Molinos – Jornal de Notícias - 17 de
outubro, 2025