18.10.25

OPINIÃO: A lentidão dos gabinetes


Em março, o Parlamento aprovou uma lei que deu origem a 302 novas freguesias. O objetivo foi permitir (como aconteceu) a eleição dos órgãos das freguesias desagregadas, com um calendário adequado ao trabalho político e à operacionalização no terreno. Chegados a meados de outubro, sete meses depois, ouve-se o alerta do ministro da Coesão Territorial de que o pagamento de salários a funcionários das novas freguesias poderá estar em risco a partir de novembro.

A questão não é, obviamente, de falta de verbas. Elas existem e estão orçamentadas, porque estamos a falar apenas de uma transferência de funcionários que saem de uma União e entram nos novos órgãos que agora irão tomar posse. Como se explica, então, esta dificuldade? Importa recuperar algumas datas que parecem demonstrar que, mesmo quando as questões estão identificadas, tudo se faz com uma lentidão incompreensível.

A 22 de julho, no Parlamento, Castro Almeida sinalizava já o risco agora reiterado, alegadamente por falhas no diploma (Lei 25-A), que não salvaguardou devidamente temas como os salários e divisão de património. Para superar essas falhas, explicava que o Governo iria preparar um projeto de decreto-lei a entregar à Assembleia da República. O que aconteceu, embora apenas a 26 de setembro.

O decreto está parado no Parlamento e a 12 de novembro, se nada for feito, a Direção-Geral das Autarquias Locais não terá cobertura legal para transferir os duodécimos devidos às freguesias, para os pagamentos até final do ano. Convém acreditar que rapidamente a situação ficará resolvida, mas o simples facto de estarmos nesta data com o alerta lançado em tom algo dramático não pode deixar de causar estranheza. Digam lá se não parece um problema de um país a fazer de conta?

Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 15 de outubro, 2025