A historiadora Raquel Varela, que há 11 anos ocupa um espaço de
comentário na RTP, vai deixar a cadeira de debate do canal 1.
A professora universitária anunciou a sua despedida nas redes sociais e
no seu último painel de comentário na RTP3 (que muda de nome na noite deste
domingo, para RTP Notícias), com palavras e acusações que têm gerado um debate
aceso entre a opinião pública: estamos perante mais um caso de despedimento ou
de censura?
Parece ter sido essa a discussão que a própria investigadora de 46 anos
tentou levantar, ao escrever nas suas redes sociais que a sua saída da RTP não
acontece por escolha sua, mas por escolha da nova direção da estação.
“Saio por escolha política”, afirmou Raquel Varela, que dá a entender
que pretendia continuar não por interesse próprio declarado, mas para manter a
presença de vozes de diferentes quadrantes no espaço de debate.
“A minha saída do comentário semanal da RTP não se deve certamente a
audiências, já que em todos os programas onde estive elas subiram (…). Saio por
uma escolha política – todas as escolhas são políticas, e devemos falar
abertamente delas“, escreve a professora universitária no comunicado público.
A comentadora continua, deixando um aviso: “A minha saída de
comentadora da RTP fragiliza ainda mais a esfera pública. Não por mim, pois
ninguém é insubstituível. Mas porque as vozes como a minha não representam mais
uma “‘opinião'”, apontando ainda que “a voz pública é uma necessidade” e “deve
ser séria e diversa”, mas que “é-o cada vez menos. E é isso que tem levado,
também, à quebra de audiências – a repetição ad nauseam dos mesmos argumentos,
da mesma falta de imaginação ou de vontade para repensar a sociedade”.
Raquel Varela recordou ainda no comunicado, de passagem, a menção do
Chega como “fascista”, que adotou para se referir ao partido de André Ventura,
o que foi lembrado por alguns na sequência da sua saída da RTP.
“Pautei-me todos estes anos por uma defesa intransigente da liberdade de expressão”, escreve ainda a professora universitária: “Mesmo contra um centro-esquerda capitulador, moralista e descafeinado. Aquilo a que hoje se assiste é, porém, de enorme gravidade. Tenho vinte anos de carreira como historiadora e professora. Se afirmo que o Chega é fascista não é para produzir efeito mediático. Sou cuidadosa com os conceitos. Estamos a viver a legitimação do irracionalismo, do culto do Estado, da punição, da violência verbal (e física) contra os percebidos como mais fracos e da mentira como ‘opinião’. Que o Estado tenha legalizado isto é uma coisa, que eu como historiadora o aceitasse seria uma rutura ética com o meu trabalho.”
ZAP - 12 Outubro, 2025