12.10.25

TELEVISÃO: “Saio por escolha política”. Nova direção da RTP afasta Raquel Varela

 


Historiadora de 46 anos, há 11 anos na RTP, muito crítica da decisão da nova direção. “Não por mim, pois ninguém é insubstituível. Mas porque as vozes como a minha não representam mais uma “‘opinião'”, escreveu em comunicado.

A historiadora Raquel Varela, que há 11 anos ocupa um espaço de comentário na RTP, vai deixar a cadeira de debate do canal 1.

A professora universitária anunciou a sua despedida nas redes sociais e no seu último painel de comentário na RTP3 (que muda de nome na noite deste domingo, para RTP Notícias), com palavras e acusações que têm gerado um debate aceso entre a opinião pública: estamos perante mais um caso de despedimento ou de censura?

Parece ter sido essa a discussão que a própria investigadora de 46 anos tentou levantar, ao escrever nas suas redes sociais que a sua saída da RTP não acontece por escolha sua, mas por escolha da nova direção da estação.

“Saio por escolha política”, afirmou Raquel Varela, que dá a entender que pretendia continuar não por interesse próprio declarado, mas para manter a presença de vozes de diferentes quadrantes no espaço de debate.

“A minha saída do comentário semanal da RTP não se deve certamente a audiências, já que em todos os programas onde estive elas subiram (…). Saio por uma escolha política – todas as escolhas são políticas, e devemos falar abertamente delas“, escreve a professora universitária no comunicado público.

A comentadora continua, deixando um aviso: “A minha saída de comentadora da RTP fragiliza ainda mais a esfera pública. Não por mim, pois ninguém é insubstituível. Mas porque as vozes como a minha não representam mais uma “‘opinião'”, apontando ainda que “a voz pública é uma necessidade” e “deve ser séria e diversa”, mas que “é-o cada vez menos. E é isso que tem levado, também, à quebra de audiências – a repetição ad nauseam dos mesmos argumentos, da mesma falta de imaginação ou de vontade para repensar a sociedade”.

Raquel Varela recordou ainda no comunicado, de passagem, a menção do Chega como “fascista”, que adotou para se referir ao partido de André Ventura, o que foi lembrado por alguns na sequência da sua saída da RTP.

“Pautei-me todos estes anos por uma defesa intransigente da liberdade de expressão”, escreve ainda a professora universitária: “Mesmo contra um centro-esquerda capitulador, moralista e descafeinado. Aquilo a que hoje se assiste é, porém, de enorme gravidade. Tenho vinte anos de carreira como historiadora e professora. Se afirmo que o Chega é fascista não é para produzir efeito mediático. Sou cuidadosa com os conceitos. Estamos a viver a legitimação do irracionalismo, do culto do Estado, da punição, da violência verbal (e física) contra os percebidos como mais fracos e da mentira como ‘opinião’. Que o Estado tenha legalizado isto é uma coisa, que eu como historiadora o aceitasse seria uma rutura ética com o meu trabalho.”

ZAP - 12 Outubro, 2025