Há uma perceção generalizada: o elevador social empancou e Portugal
tornou-se num dos países desenvolvidos com maior desigualdade de oportunidades.
O relatório "Ter e não ter - Como ultrapassar a desigualdade de
oportunidades" coloca Portugal em segundo lugar na lista de países
pertencentes à OCDE onde foi identificada uma maior disparidade. Em 29 dos
países estudados, Portugal só é ultrapassado pelos Estados Unidos. Este facto é
um alerta para a sociedade portuguesa no seu todo e deve ser um foco de esforços
políticos. A análise da organização revela que o género, o local de nascimento
dos pais e, sobretudo, a origem socioeconómica determinam mais de 35% da
desigualdade de rendimentos, uma das percentagens mais elevadas entre os países
ricos, o que, em última análise, determina a posição que uma pessoa pode
alcançar ao longo da vida. Pior. Esta circunstância é exacerbada entre as
gerações mais jovens, que enfrentam maiores obstáculos do que os seus pais para
progredir, o que desafia a narrativa em torno do esforço e da meritocracia. Os
dados são particularmente desafiantes para um país que só tem democracia há 50
anos e que, nestas décadas, às vezes bem, outras mal, promoveu um modelo de
melhoria da igualdade de oportunidades através dos serviços públicos, da
redistribuição fiscal e da regulação do mercado de trabalho. No entanto, estas
estratégias são insuficientes perante os desafios do século XXI, com fatores -
como o preço da habitação - a começarem a expulsar muitas pessoas do sistema e
sem uma resposta clara por parte dos partidos políticos, independentemente da
sua filiação. É aqui também que partidos populistas estão a ir buscar votos.
* António José Gouveia – Jornal de Notícias - 7 de outubro, 2025