O Estado tem ido embora, literalmente, de concelhos onde foram
encerrados serviços públicos que eram essenciais para assegurar proximidade,
conhecimento do território, qualidade de vida e dinâmicas locais de emprego. E
tem ido embora a cada decisão que acentua assimetrias e concentra recursos e
investimento em Lisboa - o que acontece em praticamente todas as áreas
setoriais. Se analisarmos orçamentos e modelos de decisão e governação, somos
um país profundamente centralizado e em que grande parte do território é, de
facto, paisagem.
Os incêndios não são um problema de floresta. Com isto não se ignora a
necessidade de ordenamento, a falta persistente de cadastro, o impacto das
espécies e tantos outros temas que exigem uma abordagem especializada. O que se
pretende sublinhar é que, a montante das questões florestais, há um contexto
dramático de despovoamento que condiciona toda a estratégia territorial.
Espaços rurais ocupados e com atividade económica são naturalmente espaços com
prevenção e maior capacidade de vigilância.
Há um país que resiste, aquele que vemos desesperado a apagar as chamas
e para quem o verão é o resultado previsível do esquecimento no resto do ano.
Um país cada vez menos representado no Parlamento, devido ao nosso sistema
eleitoral, e para o qual até os fundos europeus começarão a escassear, se
vingarem as mudanças previstas nas políticas de coesão. É vergonhoso que o
Governo vire costas a quem, pelo contrário, não vai embora.
·
Inês Cardoso – Jornal de Notícias- 20 de agosto,
2025