Este caso configura mais um exemplo de uma solução que, apesar de ser
apresentada como energia renovável, está a causar danos a saúde e
sustentabilidade local. Além do mais, confirma-se como o Cercal do Alentejo e
os seus residentes são expostos às externalidades de empresas que, não
preocupam com a saúde dos seus residentes, sendo apenas guiados pela lógica do
custo mínimo.
Acontece que no dia 15.07.2025, um dos três silos de produção da
empresa PINEWELLS começou a entrar em combustão e, tratando-se, de uma matéria
altamente inflamável, o controlo da combustão tornou-se impossível, ocorrendo
então uma explosão no silo, causando um intenso incêndio.
A seguinte imagem mostra a mancha de calor sobre a zona do incêndio no dia 22/07/25.
Como se consegue ver na imagem, a povoação do Cercal está muito próxima
e sempre exposta às consequências da exposição de factores nocivos que possam
vir da zona industrial, como neste caso, o incêndio e a onda de calor.
O incêndio foi agravado pela presença de madeira armazenada no exterior
que tem causado emissão constante de um fumo altamente tóxico. A seguinte foto
evidencia os silos e o fumo.
Alegadamente, este não é o primeiro acidente a ser registado na área.
Habitantes reportam que houve um incêndio no dia 07.05.2020 e 3 explosões no
dia 11.12.2024, com 2 feridos graves que foram levados de helicóptero pelo
INEM.
Além do evidenciar o paradoxo da produção de energia “verde” por parte
da empresa que aparenta não ter problemas em emitir aproximadamente 73.400
toneladas de Co21
1 Representa o valor aproximado calculado com base nas informações
recolhidas localmente sobre toneladas de madeira queimadas. para a atmosfera,
mostra-nos também o modo de se fazer desenvolvimento na região: a produção é
feita às custas das pessoas e não para as pessoas; as externalidades ficam, os
ganhos saem do território.
Esta situação também nos mostra como, mais uma vez, têm que os residentes do Cercal a denunciar situação de risco e perigo para a saúde local e sustentabilidade ambiental, uma vez que as entidades responsáveis pouco ou nada têm feito.
Empresas como esta mostram-nos como vários acidentes (graves e não graves) são parte integrante do trabalho que é oferecido na industrialização “verde” da área.
Assim sendo, reafirmamos que existem riscos acrescidos derivados da
atividade industrial imprópria no parque empresarial do Cercal do Alentejo:
• Risco de
incêndios e explosões: as fábricas de pellets trabalham com pó de madeira
altamente inflamável. Um acidente pode pôr em risco habitações, escolas,
florestas e vidas humanas.
• Poluição do
ar: a libertação de partículas finas e compostos tóxicos afeta a qualidade do
ar que respiramos, aumentando doenças respiratórias, especialmente em crianças
e idosos.
• Ruído
constante e tráfego intenso: a população acusa valores de ruído superior as
expectáveis como “normais”, principalmente durante a noite e a circulação de
camiões e o barulho das máquinas têm perturbado o sossego, colocam em risco a
segurança nas estradas e agravam o desgaste ambiental da região.
•
Desvalorização do território: a presença de uma fábrica industrial
afasta turismo, desvaloriza propriedades e destrói o equilíbrio entre natureza,
agricultura e vida comunitária.
• Impacto
ecológico e florestal: a indústria de pellets exige grandes quantidades de
madeira. Isto está a levar à degradação dos ecossistemas locais, e estimula
mais monoculturas de eucaliptos que, por sua vez, se correlacionam a incêndios
rurais.
Portanto, o JPC mais uma vez afirma o que emana da população:
desenvolvimento sim, mas não assim!
Será necessário:
• A suspensão imediata deste projeto nas condições actuais;
• A realização de um estudo de impacto ambiental sobre saúde humana e
ecossistémica independente e público;
• A garantia de participação da população nas decisões que afetam o território.
Quem somos?
“ Juntos pelo Cercal” é um movimento horizontal cívico e espontâneo de cidadãos residentes, empreendedores ou que de alguma forma estejam ligados a esta região, que se formou pela oposição ao projeto de construção da central fotovoltaica previsto para esta região, mas que desde a sua conceção expandiu o seu foco para vários outros problemas multidimensionais relacionados com a área, sustentabilidade e justiça socioambiental. Este grupo não tem qualquer tipo de afiliação política ou partidária e move-se apenas pela defesa dos interesses da sua população. O grupo pretende veicular ideias de sustentabilidade; noções de justiça ambiental, social e económica; e fazer com que os residentes locais possam gozar dos seus direitos e participação plena.