8.8.25

AMBIENTE: "Não conseguimos respirar"- denúncia de Juntos pelo Cercal

 

O Juntos Pelo Cercal vem deste modo mostrar o seu descontentamento e mostrar solidariedade com os residentes do Cercal do Alentejo, que há mais de duas semanas, estão a suportar as consequências da má gestão de uma fábrica de pellets localizada na zona empresarial do Cercal do Alentejo.

Este caso configura mais um exemplo de uma solução que, apesar de ser apresentada como energia renovável, está a causar danos a saúde e sustentabilidade local. Além do mais, confirma-se como o Cercal do Alentejo e os seus residentes são expostos às externalidades de empresas que, não preocupam com a saúde dos seus residentes, sendo apenas guiados pela lógica do custo mínimo.

Acontece que no dia 15.07.2025, um dos três silos de produção da empresa PINEWELLS começou a entrar em combustão e, tratando-se, de uma matéria altamente inflamável, o controlo da combustão tornou-se impossível, ocorrendo então uma explosão no silo, causando um intenso incêndio.

A seguinte imagem mostra a mancha de calor sobre a zona do incêndio no dia 22/07/25.

Como se consegue ver na imagem, a povoação do Cercal está muito próxima e sempre exposta às consequências da exposição de factores nocivos que possam vir da zona industrial, como neste caso, o incêndio e a onda de calor.

O incêndio foi agravado pela presença de madeira armazenada no exterior que tem causado emissão constante de um fumo altamente tóxico. A seguinte foto evidencia os silos e o fumo.

Alegadamente, este não é o primeiro acidente a ser registado na área. Habitantes reportam que houve um incêndio no dia 07.05.2020 e 3 explosões no dia 11.12.2024, com 2 feridos graves que foram levados de helicóptero pelo INEM.

 Nestas últimas duas semanas, vários residentes, têm acusado problemas nas vias respiratórias e nos olhos, além de estarem incertos sobre as condições de segurança e de saúde nas suas localidades.

Além do evidenciar o paradoxo da produção de energia “verde” por parte da empresa que aparenta não ter problemas em emitir aproximadamente 73.400 toneladas de Co21

1 Representa o valor aproximado calculado com base nas informações recolhidas localmente sobre toneladas de madeira queimadas. para a atmosfera, mostra-nos também o modo de se fazer desenvolvimento na região: a produção é feita às custas das pessoas e não para as pessoas; as externalidades ficam, os ganhos saem do território.

Esta situação também nos mostra como, mais uma vez, têm que os residentes do Cercal a denunciar situação de risco e perigo para a saúde local e sustentabilidade ambiental, uma vez que as entidades responsáveis  pouco ou nada têm feito.

Alegadamente os bombeiros apenas foram chamados ao local por um residente, não pela empresa; as condições de segurança não são mantidas pelas empresas e os trabalhadores correm riscos superiores ao necessário; as respetivas autoridades (os responsáveis da fábrica, da Junta de Freguesia, GNR, ou Proteção Civil) mais uma vez falharam na sua missão de proteger a população ao não tomarem nenhuma posição em comunicado oficial de modo a informar a população do ocorrido e que medidas irão tomar no futuro.

Empresas como esta mostram-nos como vários acidentes (graves e não graves) são parte integrante do trabalho que é oferecido na industrialização “verde” da área.

Assim sendo, reafirmamos que existem riscos acrescidos derivados da atividade industrial imprópria no parque empresarial do Cercal do Alentejo:

•                     Risco de incêndios e explosões: as fábricas de pellets trabalham com pó de madeira altamente inflamável. Um acidente pode pôr em risco habitações, escolas, florestas e vidas humanas.

•                     Poluição do ar: a libertação de partículas finas e compostos tóxicos afeta a qualidade do ar que respiramos, aumentando doenças respiratórias, especialmente em crianças e idosos.

•                     Ruído constante e tráfego intenso: a população acusa valores de ruído superior as expectáveis como “normais”, principalmente durante a noite e a circulação de camiões e o barulho das máquinas têm perturbado o sossego, colocam em risco a segurança nas estradas e agravam o desgaste ambiental da região.

•                     Desvalorização do território: a presença de uma fábrica industrial afasta turismo, desvaloriza propriedades e destrói o equilíbrio entre natureza, agricultura e vida comunitária.

•                     Impacto ecológico e florestal: a indústria de pellets exige grandes quantidades de madeira. Isto está a levar à degradação dos ecossistemas locais, e estimula mais monoculturas de eucaliptos que, por sua vez, se correlacionam a incêndios rurais.

Portanto, o JPC mais uma vez afirma o que emana da população: desenvolvimento sim, mas não assim!

Será necessário:

• A suspensão imediata deste projeto nas condições actuais;

• A realização de um estudo de impacto ambiental sobre saúde humana e ecossistémica independente e público;

• A garantia de participação da população nas decisões que afetam o território.

Quem somos?

“ Juntos pelo Cercal” é um movimento horizontal cívico e espontâneo de cidadãos residentes, empreendedores ou que de alguma forma estejam ligados a esta região, que se formou pela oposição ao projeto de construção da central fotovoltaica previsto para esta região, mas que desde a sua conceção expandiu o seu foco para vários outros problemas multidimensionais relacionados com a área, sustentabilidade e justiça socioambiental. Este grupo não tem qualquer tipo de afiliação política ou partidária e move-se apenas pela defesa dos interesses da sua população. O grupo pretende veicular ideias de sustentabilidade; noções de justiça ambiental, social e económica; e fazer com que os residentes locais possam gozar dos seus direitos e participação plena.