6.8.25

HIROXIMA, MEU AMOR

 


Aspecto de Hiroxima alguns dias após a detonação da bomba atómica, a 6 de Agosto de 1945. A cúpula do Genbaku Dome, edifício que se mantém em ruínas para funcionar como memorial, foi o ponto de referência do coronel Paul Tibbets (1915-2007), piloto do bombardeiro B-29 baptizado de Enola Gay (em homenagem à sua mãe), para largar a bomba chamada "Little Boy", que explodiu a cerca de 550 metros acima da cidade. Com uma potência equivalente a cerca de 12,5 quilotoneladas de TNT, a bomba reduziu a cinzas uma área de 13 quilómetros quadrados do centro de Hiroxima e causou a morte a aproximadamente 70 mil pessoas nos primeiros quatro dias após a explosão, estimando-se que, posteriormente, outras tantas tenham morrido devido a complicações e a doenças causadas pela exposição a níveis elevados de radioactividade, designadamente leucemia e outros tipos de cancro.

Faz hoje 80 anos que a mais mortífera e devastadora das armas – a bomba atómica – foi lançada sobre a urbe nipónica de Hiroxima. Para descrever cabalmente tamanha catástrofe, ademais sendo antropogénica, que se traduziu na destruição repentina e intensa de uma cidade e na dizimação da maioria dos seus habitantes, parece não haver palavras à altura. Mas houve quem se esforçasse por encontrá-las e uma dessas pessoas foi o músico/compositor e artista plástico José Luís Tinoco, quando concebeu, no âmbito do seu grupo Saga, o álbum "Homo Sapiens" (1976), um dos trabalhos de referência do rock progressivo português. O poema intitula-se precisamente "Hiroxima" e, para dar-lhe voz, o autor convidou o actor Sinde Filipe. E o resultado é tocante e eloquente, desde a moldura sonora à mui impressiva recitação. Oxalá a escuta deste admirável registo pudesse fazer crescer o repúdio às armas nucleares tão ampla e arreigadamente que os dirigentes dos países que as possuem nem sequer ponderassem alguma vez usá-las!

Vem a propósito chamarmos a atenção, uma vez mais, para a gritante lacuna de uma rubrica, emitida diariamente ou de segunda a sexta-feira, de poesia dita/recitada, que persiste na grelha da Antena 1, e na qual gravações como a ora destacada pudessem ser divulgadas. Deploravelmente, Nuno Galopim de Carvalho optou por uma conduta autista ignorando sobranceiramente os apelos que o escrevente destas linhas e outros ouvintes lhe fizeram, para que tal lacuna fosse colmatada, em linha com a mui honrosa tradição do canal naquela modalidade cultural. Agora que a direcção de programas mudou de mãos (e bem), fazemos votos de que o novo homem forte da Antena 1, Nuno Reis, tenha a clarividência e a sageza de agir de maneira diferente e mais consentânea com as obrigações de serviço público às quais o canal generalista da rádio do Estado está legal e moralmente vinculado.