Faz hoje 80 anos que a mais mortífera e devastadora das
armas – a bomba atómica – foi lançada sobre a urbe nipónica de Hiroxima. Para
descrever cabalmente tamanha catástrofe, ademais sendo antropogénica, que se
traduziu na destruição repentina e intensa de uma cidade e na dizimação da
maioria dos seus habitantes, parece não haver palavras à altura. Mas houve quem
se esforçasse por encontrá-las e uma dessas pessoas foi o músico/compositor e
artista plástico José Luís Tinoco, quando concebeu, no âmbito do seu grupo
Saga, o álbum "Homo Sapiens" (1976), um dos trabalhos de referência
do rock progressivo português. O poema intitula-se precisamente "Hiroxima"
e, para dar-lhe voz, o autor convidou o actor Sinde Filipe. E o resultado é
tocante e eloquente, desde a moldura sonora à mui impressiva recitação. Oxalá a
escuta deste admirável registo pudesse fazer crescer o repúdio às armas
nucleares tão ampla e arreigadamente que os dirigentes dos países que as
possuem nem sequer ponderassem alguma vez usá-las!
Vem a propósito chamarmos a atenção, uma vez mais, para a
gritante lacuna de uma rubrica, emitida diariamente ou de segunda a
sexta-feira, de poesia dita/recitada, que persiste na grelha da Antena 1, e na
qual gravações como a ora destacada pudessem ser divulgadas. Deploravelmente,
Nuno Galopim de Carvalho optou por uma conduta autista ignorando
sobranceiramente os apelos que o escrevente destas linhas e outros ouvintes lhe
fizeram, para que tal lacuna fosse colmatada, em linha com a mui honrosa
tradição do canal naquela modalidade cultural. Agora que a direcção de
programas mudou de mãos (e bem), fazemos votos de que o novo homem forte da
Antena 1, Nuno Reis, tenha a clarividência e a sageza de agir de maneira
diferente e mais consentânea com as obrigações de serviço público às quais o
canal generalista da rádio do Estado está legal e moralmente vinculado.