24.8.25

OPINIÃO: Debater as leis laborais


De certa forma andamos distraídos com algumas propostas de alteração à legislação laboral que foram apresentadas há pouco tempo pelo Governo.

Há alguns anos, para chegar ao ponto em que estamos hoje, enfrentamos um longo debate. Frente a frente estavam duas visões contrárias: por um lado, a versão de que a flexibilização (era essa a palavra-chave na altura) era essencial para a modernização do mercado de trabalho e para o desenvolvimento do país; por outro, os alertas de que a precarização que era defendida significava um ataque aos direitos da parte mais frágil da equação: o trabalhador.

Hoje, discutimos (se calhar, menos do que devíamos) uma nova alteração à legislação laboral e um novo avanço da visão que considera a flexibilização essencial para o desenvolvimento.

Neste debate, que não parece acompanhado da atenção que merece, não podemos esquecer duas ideias-chave: o trabalhador é sempre a parte mais fraca e cabe ao Governo exercer um papel que equilibre esse peso diferenciado.

Devemos debater estas propostas sem nunca esquecer o panorama global e não nos deixarmos enganar por discussões marginais.

Sobretudo, devemos insistir num ponto essencial: trabalhadores e empresas não estão no mesmo patamar de direitos com forças equivalentes.

Sendo importante modernizar a legislação, adaptando-a ao funcionamento do trabalho atual - e há muito a fazer neste campo -, não devemos permitir que sob essa capa se tome a parte pelo todo e se retirem direitos essenciais com a desculpa do combate aos abusos.

E esta é outra regra básica que não pode ser esquecida: o combate aos abusos não pode nunca servir para justificar a retirada de direitos.

Nuno Marques – Jornal de Notícias - 18 de agosto, 2025