João Emílio Baptista Rosa nasceu em Nisa a 18 de Agosto de 1925. Filho de comerciantes, foi para Lisboa para estudar Direito e depois Letras, cursos que trocou por uma paixão maior: o cinema.
As
conversas com amigos nas tertúlias lisboetas do Palladium e nos estúdios da
Tóbis, a par das leituras e colaboração em jornais e revistas ligadas à arte
cinematográfica, mais cimentaram o fascínio por uma arte que despontava em
Portugal: o cinema.
Na
qualidade de colaborador da Revista “Animatógrafo”, com direcção de António
Lopes Ribeiro (1933/1941), Baptista Rosa escrevia as suas crónicas e críticas
sobre o Cinema que se fazia naquela época.
Em
1941 estava como estagiário no filme “O Pai Tirano”, realizado por António
Lopes Ribeiro, e, logo de seguida no filme “O Pátio das Cantigas”, realizado
por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).
Com a experiência adquirida rumou a Espanha (Madrid) no ano de 1946, tendo, então, trabalhado com o cineasta húngaro Ladislao Vajda, o qual foi durante a época de 40 e 50 um elemento fundamental do cinema espanhol, destacando-se, para o efeito, um filme que marcou a juventude Ibérica e da América Latina, “Marcelino, Pão e Vinho”.
Fundou
e dirigiu a revista IMAGEM de 1954 a 1959, a qual se dedicava à divulgação da
actividade cinematográfica.
A
visita da Rainha Isabel II a Portugal em 1956 foi um marco fundamental do
contributo de Baptista Rosa para a história do Cinema e Televisão no nosso país
e que fica bem expresso no depoimento sobre este evento de Augusto Cabrita
presente no Livro “50 Anos da RTP”, da autoria de Vasco Hogan Teves:
“Foram mobilizados para cobrir o acontecimento todos os ‘cameramen’ possíveis deste País” – relembrava Augusto Cabrita, acrescentando: “E eu, como só possuía máquinas fotográficas, tive que comprar à pressa uma reluzente e magnífica ‘Paillard-Reflex’. (...) O Baptista Rosa na sua farda de tenente do Exército, filmava, em grande plano, a chegada da Rainha junto ao Cais das Colunas. Eu (em ‘plongée’...), do cimo do Arco da Rua Augusta, fazia os planos de conjunto. O José Manuel Tudela, o Carlos Tudela, o Serras Fernandes, o Adriano Nazareth, o Vítor Manuel, o João Martins, o António Cunha Teles, o Walter Sampaio, o António Bernardo, o Artur Moura... e os outros membros da equipa espalhavam-se por sítios estratégicos da cidade até Queluz... Mas, após os planos de conjunto feitos do meu poleiro, ainda me lembrei de fazer um ‘extra’ (fora da planificação) que foi descer à pressa a escadaria e achar-me ao nível da rua a tempo de enquadrar Craveiro Lopes e Isabel II sob o Arco, e segui-los, numa correria doida, de máquina em punho, passando pelo Rossio, Restauradores, subir a Avenida e chegar ao Marquês, exausto como o corredor da Maratona...
Tirando o máximo partido da sua farda de oficial, Baptista Rosa infiltrou-se por quantos sítios foi possível para apanhar as melhores imagens. Quebrou alguns protocolos, mas, graças a isso, impressionou uns tantos metros de filme com imagens que ninguém mais conseguiu. Como, por exemplo, aquela do interior do coche, com os sorrisos de Isabel e Craveiro (e sabe-se como era difícil fazê-lo sorrir) em primeiríssimo plano, enquanto os seguranças, aturdidos , só se aperceberam do que se passara quando já nada podiam fazer. É que o Baptista Rosa fora demasiado rápido a abrir a porta da carruagem e a assestar a objectiva.”
No livro “Baptista Rosa”, uma edição de 1984 da Cinemateca Portuguesa, com a organização literária de José Matos-Cruz, pode ler-se na introdução: “Na galeria de autênticos profissionais do Cinema Nacional, Baptista Rosa ocupa uma posição atípica e singular. Pela sua multifacetada capacidade como técnico, pela viva experiência enquanto escritor e repórter, pelo carácter específico das Obras que assinou.
Dividido entre afazeres e apetências, distribuindo-se por áreas e motivações frequentemente insuspeitáveis, Baptista Rosa dedicou décadas – o melhor esforço aos Serviços Cartográficos do Exército e à Radiotelevisão Portuguesa.”
Um Amor Entre Cinema e Televisão
Na
obra citada, Luís de Pina, então Director da Cinemateca, escrevia:
“Conheci Baptista Rosa durante a fase
heróica da Radiotelevisão Portuguesa, aí pelo ano de 1958.
Sentado a uma moviola de 16mm, com os
olhos cravados nas imagens e as mãos crispadas nos comandos da máquina,
utilizava um método muito pouco ortodoxo mas ainda hoje seguido, pendurando os
planos do filme no pescoço, à medida que a sequência ia sendo alinhavada.
Era aquele, na verdade, o seu elemento. Mais repórter do que escritor, mais à vontade na montagem do que na realização, a tendência habitual do seu espírito fadava-o para a curiosidade insaciável por todas as pessoas e por todas as coisas. Se escrever é pensar com os dedos, como dizia um grande Jornalista, Baptista Rosa servia-se dos olhos para nos revelar o grande espectáculo, o grande Cinema da vida. A câmara e a moviola eram as companheiras de todas as horas”.
Baptista
Rosa trabalhou nos Serviços Cartográficos do Exército onde atingiu o posto de
tenente- coronel. Ao longo da sua curta vida, foi Guionista, Realizador, Produtor,
Actor, Operador de Câmara, Montador, Jornalista e Escritor.
Fundou
diversas revistas de cinema e espectáculos, entre elas a Plateia, foi director
do jornal “O Benfica” e após o 25 de Abril saneado da RTP.
Baptista
Rosa não desanimou e em 1978, juntamente com Odette de Saint-Maurice, Afonso
Botelho, Aquilino Mendes, Pinheiro de Azevedo (ex-Primeiro Ministro), Tomás
Rosa (ex-Presidente da RTP), Maria Nunes Forte, entre muitos outros, está entre
os fundadores da RTI –Radio Televisão Independente, num período em que ninguém
falava de Televisão privada em Portugal, sendo esta acção denominada por “Um
Projecto de T.V.”
A ideia da necessidade de criação do ANIM (Arquivo Nacional das Imagens em Movimento) nasceu no início dos anos 80, tendo Baptista Rosa participado no Grupo de Trabalho então constituído para o efeito.
“Controverso
e versátil, fascinante e hábil, competente e incansável, Baptista Rosa
permanece – acima de tudo – como uma figura pública de insuperável relevância
entre nós, com prestígio e simpatia um pouco por todo o Mundo que veio a
percorrer”. Baptista Bastos
Faleceu
em Lisboa, aos 57 anos, a 6 de Outubro de 1982.
Tyrone
Power em Portugal (1948) - Realizador
A
Morgadinha dos Canaviais (1949) - Assistente de Realização
Imagens
de Niza (1949-35mm-P/B) - Realização
Sonhar
É Fácil (1951) - Assistente de Realização
I
Exposição de Arte dos Trabalhadores (1952-35mm-P/B) - Supervisão Geral
Moderna
Escultura Portuguesa (1952) - Supervisão Geral
A
I Grande Concentração Nacional de Filarmónicas e Bandas de Música Civis (1952)
- Supervisão Geral
Parque
Desportivo Salazar (1952) - Supervisão Geral
O
Natal na Arte Portuguesa (1954-35mm-P/B) - Realização
Azulejos
de Portugal (1958-35mm-cor) - Realização
Fundo
de Fomento de Exportação (1959-35mm-cor) - Produção e Supervisão Geral
(inacabado)
Como
se Fabrica a Margarina Chefe (1961-16mm-P/B) - Produção e Supervisão Geral
A
Paixão de Cristo na Pintura Antiga Portuguesa (1961-35mm-cor) - Realização,
Planificação e
Montagem
Alfama
à Noite (1962) - Produção e Realização
O
Século (1963-35mm-P/B) - Produção e Supervisão (Inacabado)
Semana
Santa em Óbidos (1963-16mm-P/B) - Realização e Planificação
O
Forcado (1965-16mm-P/B) - Realização e Montagem
Instituto
Nacional de Educação Física (1967-16mm-P/B) - Realização
O Romance do Luachimo – Lunda, Terra de Diamantes (1968-35mm-cor) - Produção, Realização e Montagem
A
Arte dos Povos da Lunda (1969-35mm-cor) - Produção, Realização e Montagem
Cartografia,
Arte e Técnica (1969-35mm-cor) - Realização
Cartografia,
Arte e Ciência (1970-35mm-cor) - Realização
Hello
Jim (1970) - Produção (Prémio Paz dos Reis)
Fundação
Gulbenkian-Doze Anos de Actividade (1972-16mm-P/B) - Produção e Supervisão
Geral
A
Pintura de Vieira da Silva (1972-35mm-cor) - Produção e Realização (Inacabado)
Televisão
Visita
da Rainha Isabel II a Portugal (1956)
Viagem
do Presidente da República, general Craveiro Lopes aos Açores (1957)
Viagem do Presidente da República, general Craveiro ao Brasil (1957)
Morte e Funeral do Papa Pio XII (1958)
Eleição
do Papa João XXIII (1958)
Cinema
(1958)
Exposição
Internacional de Bruxelas (1958)
Inauguração
do Cristo Rei (Lisboa-1959)
Esta
Semana Aconteceu (1959)
Desfile
dos Espectáculos (1959)
Visita
do Ministro da Presidência à Índia (1960)
Visita
do Ministro da Presidência a África (1960)
Festival
de Cinema de Berlim (1960)
Exposição
Henriquina (1960)
O
Forcado (1965)
Cinema
65 (1965)
Óbidos
e a Semana Santa (1966-Representante da RTP no Festival Internacional de
Televisão de
Monte
Carlo)
Cinema
sem Estrelas (1967)
Horizonte
(1967)
Notícias
do Espectáculo
Zip-Zip
(1969) - Guionista
Curto-Circuito
(1970) - Guionista e Produtor
Viagem
do Presidente da República ao Brasil (1972)
Taco-a-Taco
Este
Século em que Vivemos
Volta
a Portugal em Bicicleta (Várias)
Mensagens Natalícias de Militares em serviço na Guiné, Angola, Moçambique e Goa
Condecorações
Medalha
de Mérito Militar (1969)
Grau
de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1972)
Medalha
de Prata de Serviços Distintos (Fevereiro de 1974)
Medalha
de Mérito D. João VI (Rio de Janeiro, 1980)
Como
Júri
Prémio
Itália de Rádio e Televisão (Florença-1970)
XXIV
Festival Internacional de Cinema de Berlim (Julho de 1974)
Festival Internacional do Filme Publicitário de New York (1981)
Prémios
Prémio
Laranja – Área Televisão (1967-Diário Popular)
Prémio
de Imprensa (1968-Horizonte, Programa de Televisão)
Denominação
de Prémio
Prémio Baptista Rosa (1982-Atribuição feita pelo jornal brasileiro “ O Globo”
Livros publicados
Chamava-se
Júlia e Fazia Flores (1984)
Cargos
Chefe
da Divisão de Fotografia e Cinema dos Serviços Cartográficos do Exército
Chefe
de Serviço de Produção Cinematográfica (1959)
Chefe
de Serviço de Programas Especiais (1963)
Adjunto
da Direcção-Geral de Programas da RTP (1969)
Director
da Agência Portuguesa de Revistas
Chefe
de Redacção da Revista “Filmagem”
Director
e Editor da Revista “Imagem” (reaparecimento em 1950)
Director
da Revista “Plateia”
Director
do Semanário “O Benfica” (1969 a 1971)
Colaborador
como Jornalista nos jornais “Diário Popular”, “O Século” e “Diário de Lisboa”,
“Record”, assim como nas Revistas “Eva” e “Século Ilustrado”
Presidente
da Casa do Pessoal da RTP
Correspondente
da BBC, Visnews, Reuter e Révue du Cinéma
Direcção
do Grémio Nacional da Imprensa Não-Diária (1973-1975)
Fontes
Livro “Baptista Rosa”, edição Cinemateca Portuguesa (Coordenação José de Matos-Cruz - 1984); História da Televisão em Portugal (1955/1979) de Vasco Hogan Teves (Editora TV Guia-1998); Nunes Forte (Medalha comemorativa e Livro “Dossier RTI”); Revista Grande Plano da CoopTV; Revista Plateia; Jornal “O Benfica”; Revista Rádio & Televisão, Blogue Santa Nostalgia e memória do biógrafo.
· * Mário
Mendes
– Texto adaptado do que foi publicado no “Alentejo
Ilustrado – Agosto 2025