22.8.25

OPINIÃO: Ramos de giesta e alguidares


"Fala-se em aumentar o investimento na Defesa. Como pode este país falar disso quando os nossos concidadãos têm que enfrentar o fogo com ramos de giesta, baldes, alguidares e mangueiras de regar o jardim?" A crítica, em forma de pergunta, foi feita por Xavier Viegas, um dos maiores especialistas em incêndios e professor jubilado da Universidade de Coimbra, na semana passada, no JN, quando as chamas já tinham livre trânsito no Centro e Norte do país, e enquanto todos assistíamos, em sucessivos diretos televisivos, que se mantêm desde então, ao desespero das populações de tantas aldeias com o fogo à porta, sem ajuda visível.

Foi há cerca de um mês que o primeiro-ministro explicou o impacto de antecipar, ainda este ano, a meta de investimento de 2% do PIB (a riqueza anual produzida no país) em Defesa: mais 1300 milhões de euros, que somam aos mais de quatro mil milhões que já se gastam todos os anos. Ou seja, o que Luís Montenegro propôs ao país é que o Orçamento do Estado reserve, todos os anos, mais de cinco mil milhões de euros dos impostos dos portugueses para a Defesa. Acresce que há um compromisso de chegar a 5% do PIB até 2035, ou seja, e a "preços" atuais, uma escalada de custos até aos 14 mil milhões de euros por ano.

Não há dúvida de que se vive um período de incerteza e confrontação. E que União Europeia (Portugal incluído) não pode continuar dependente de uma potência pouco fiável (os EUA de Trump) ou incapaz de se defender perante a ameaça de autocratas imperialistas (a Rússia de Putin). Mas, como em tudo, é preciso fazer as contas. Racionalizar, integrar, cooperar, até fundir, se necessário, o poderio militar europeu, antes de começar a gastar. E estabelecer prioridades para o combate. Começamos pelos caças, mísseis e navios, ou por garantir que há algo mais do que ramos de giesta, alguidares e mangueiras de jardim?

·         Rafael Barbosa – Jornal de Nisa - 21 de agosto, 2025