12.8.25

“Alá é lésbica”: Ativista detida em Marrocos por usar t-shirt com mensagem polémica


A militante feminista e defensora dos direitos LGBTQI+ em Marrocos, Ibtissam Betty Lachgar, de 50 anos, foi detida no domingo, por ordem da Procuradoria daquele país, sob a acusação de blasfémia. O caso decorre da divulgação, a 31 de julho, nas redes sociais, de uma fotografia em que a ativista surge a usar uma t-shirt com a inscrição “Alá” (em árabe) e “é lésbica” (em inglês).

Segundo comunicado citado pela agência Efe, o Ministério Público ordenou a abertura de uma investigação por “publicação de uma imagem que contém um insulto à religião islâmica” e determinou a detenção imediata da autora. A acusação enquadra-se no artigo 262 do Código Penal marroquino, que prevê penas que podem ir até cinco anos de prisão quando a alegada ofensa religiosa é difundida por meios de comunicação, incluindo plataformas digitais.

Embora as críticas ao islão não estejam tipificadas como crime no Código Penal, Marrocos — onde o islão é a religião oficial — pune as ofensas aos símbolos religiosos com penas de seis a dezoito meses de prisão e multas que podem atingir os 20 mil euros, valor equivalente a cerca de sete vezes o salário mínimo oficial.

O caso expõe uma vez mais as tensões entre setores conservadores e correntes mais liberais da sociedade marroquina. Apesar de algumas mudanças recentes, como a possibilidade de casais não casados partilharem um quarto de hotel sem apresentar certificado de casamento, continuam a ser punidas com prisão tanto as relações sexuais fora do matrimónio como a homossexualidade.

A publicação de Lachgar desencadeou uma vaga de críticas e ataques por parte de segmentos conservadores e religiosos, que consideraram a mensagem da t-shirt uma afronta aos valores sagrados e uma incitação ao ódio.

Nas mesmas redes sociais que geraram a polémica, Lachgar reagiu às ameaças de morte, de violação e até de linchamento por lapidação. “Em Marrocos, eu passeio-me com t-shirts que contêm mensagens contra a religião e o islão (…) Vocês aborrecem-me com as vossas hipocrisias e acusações. O islão, como toda a ideologia religiosa, é FASCISTA, FALÓCRATA E MISÓGINA”, escreveu, utilizando letras maiúsculas no texto original.

Lachgar é fundadora do Movimento Alternativo para as Liberdades Individuais em Marrocos e é conhecida por iniciativas públicas que desafiam normas sociais conservadoras. Em 2013, organizou um “beijo coletivo” para protestar contra restrições às liberdades individuais.

A ativista tem um historial de confrontos com as autoridades e de participação em ações que geram grande mediatismo. Um dos episódios mais mediáticos ocorreu em 2015, quando Marrocos expulsou duas militantes francesas do movimento feminista Femen. As ativistas beijaram-se com o torso descoberto frente à Torre Hasán, em Rabat, junto ao mausoléu dos dois anteriores monarcas da dinastia alauíta, para denunciar a falta de direitos do coletivo LGBTQI+ no país.

·          Pedro Zagacho Gonçalves  -executivedigest.sapo.pt -  12 Ago 2025