15.8.25

OPINIÃO: Agir com humanidade

Perdemos o sentido de solidariedade e de compaixão pelos seres humanos. O caso dos imigrantes que desembarcaram na costa, em Vila do Bispo, é o exemplo mais recente. Não se trata de defender uma política de portas abertas ou escancaradas, como alguns gostam de chamar, mas sim de saber que pessoas não são carga e não podem ser tratadas como tal.

Devemos cuidar das nossas fronteiras e, mesmo que a opção seja fechá-las, temos de saber fazê-lo de forma inteligente. Sendo implacáveis com quem contrabandeia drogas ou pessoas, mas humanos com quem cai na armadilha de tentar conseguir uma vida melhor.

É difícil perceber como alguém pode ignorar o sofrimento que leva uma mãe a entrar num barco velho e sem condições e atravessar o mar alto em busca de um futuro melhor. Ninguém se sujeita a tais sacrifícios se não estiver num caminho sem saída. Ver uma mãe desembarcar por entre veraneantes numa praia do Algarve devia fazer-nos pensar mais em como tanta gente vive sem qualquer esperança e não em responsabilizar a pretensa inconsciência que coloca em risco a vida de um filho de apenas um ano.

Os portugueses votaram e deram maioria a um programa de Governo que defende um maior controlo da imigração. Essa é a essência da democracia que devemos respeitar, mesmo quem não concorda. Mas temos, todos, de exigir que tais políticas sejam implementadas de uma forma humana e capaz de respeitar os direitos das pessoas envolvidas.

Podemos trancar as portas da nossa casa, podemos ser antipáticos e não querermos qualquer relacionamento com os nossos vizinhos. Podemos fechar-nos dentro de casa, numa espécie de agorafobia coletiva, mas temos a obrigação de o fazer de forma legal, em primeiro lugar, e, sobretudo, de forma humana. E ter sempre a consciência que esse comportamento terá, inevitavelmente, uma resposta equivalente mais cedo ou mais tarde.

·         Nuno Marques – Jornal de Notícias - 12 de agosto, 2025