Devemos cuidar das nossas fronteiras e, mesmo que a opção seja fechá-las,
temos de saber fazê-lo de forma inteligente. Sendo implacáveis com quem
contrabandeia drogas ou pessoas, mas humanos com quem cai na armadilha de
tentar conseguir uma vida melhor.
É difícil perceber como alguém pode ignorar o sofrimento que leva uma
mãe a entrar num barco velho e sem condições e atravessar o mar alto em busca
de um futuro melhor. Ninguém se sujeita a tais sacrifícios se não estiver num
caminho sem saída. Ver uma mãe desembarcar por entre veraneantes numa praia do
Algarve devia fazer-nos pensar mais em como tanta gente vive sem qualquer
esperança e não em responsabilizar a pretensa inconsciência que coloca em risco
a vida de um filho de apenas um ano.
Os portugueses votaram e deram maioria a um programa de Governo que
defende um maior controlo da imigração. Essa é a essência da democracia que
devemos respeitar, mesmo quem não concorda. Mas temos, todos, de exigir que
tais políticas sejam implementadas de uma forma humana e capaz de respeitar os
direitos das pessoas envolvidas.
Podemos trancar as portas da nossa casa, podemos ser antipáticos e não
querermos qualquer relacionamento com os nossos vizinhos. Podemos fechar-nos
dentro de casa, numa espécie de agorafobia coletiva, mas temos a obrigação de o
fazer de forma legal, em primeiro lugar, e, sobretudo, de forma humana. E ter
sempre a consciência que esse comportamento terá, inevitavelmente, uma resposta
equivalente mais cedo ou mais tarde.
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Nuno Marques – Jornal de Notícias - 12 de
agosto, 2025