A realidade das estruturas residenciais para idosos - é essa a
designação pomposa das instituições que acolhem dia e noite os mais velhos - é
desoladora. Ao longo dos últimos cinco anos, as inspeções da Segurança Social
(SS) detetaram mais de 1600 instituições a funcionar à margem da lei, sendo que
500 receberam ordem de fecho imediato - o que coloca Portugal na cauda da Europa
nesta matéria. Com um quadro de apenas 50 inspetores, a SS só atua quando há
denúncias, o que significa que a real dimensão da ilicitude é desconhecida. Mas
não sejamos hipócritas: os lares ilegais proliferam como cogumelos porque a
oferta é claramente insuficiente - há cerca de 2700 residências seniores com
105 mil camas que estão quase sempre preenchidas - e os preços são proibitivos
para a maioria dos reformados e respetivas famílias. Ninguém quer deixar o pai
ou a mãe num estabelecimento sem licença, mas são poucos os que conseguem pagar
uma média de 1500 euros por um quarto, segundo um estudo recente sobre o setor.
Somos um país altamente envelhecido (mais de 2,5 milhões acima de 65 anos) e
empobrecido (um milhão e meio recebem 450 euros de pensão) - a falta de
respostas para os idosos aflige quase todas as famílias, mas o problema
permanece socialmente invisível e politicamente esquecido.
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Helena Norte - 19 de agosto, 2025