23.8.25

OPINIÃO: Invisíveis e esquecidos

 


A morte de seis idosos na sequência de um incêndio no lar onde residiam, em Mirandela, é um trágico acidente cujos contornos, e eventuais responsabilidades, ainda vão ser apurados pelas investigações em curso da PJ e da Segurança Social. O alarme de fumo não terá disparado, quando o fogo deflagrou a partir de um curto-circuito num colchão antiescaras na madrugada de sábado, e há dúvidas quanto ao cumprimento do plano de segurança e se o número de funcionários era suficiente para os quase 90 utentes. Porém, convém sublinhar, o Lar do Bom Samaritano, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela, estava licenciado e aparentemente cumpria os requisitos legais para funcionar.

A realidade das estruturas residenciais para idosos - é essa a designação pomposa das instituições que acolhem dia e noite os mais velhos - é desoladora. Ao longo dos últimos cinco anos, as inspeções da Segurança Social (SS) detetaram mais de 1600 instituições a funcionar à margem da lei, sendo que 500 receberam ordem de fecho imediato - o que coloca Portugal na cauda da Europa nesta matéria. Com um quadro de apenas 50 inspetores, a SS só atua quando há denúncias, o que significa que a real dimensão da ilicitude é desconhecida. Mas não sejamos hipócritas: os lares ilegais proliferam como cogumelos porque a oferta é claramente insuficiente - há cerca de 2700 residências seniores com 105 mil camas que estão quase sempre preenchidas - e os preços são proibitivos para a maioria dos reformados e respetivas famílias. Ninguém quer deixar o pai ou a mãe num estabelecimento sem licença, mas são poucos os que conseguem pagar uma média de 1500 euros por um quarto, segundo um estudo recente sobre o setor. Somos um país altamente envelhecido (mais de 2,5 milhões acima de 65 anos) e empobrecido (um milhão e meio recebem 450 euros de pensão) - a falta de respostas para os idosos aflige quase todas as famílias, mas o problema permanece socialmente invisível e politicamente esquecido.

·         Helena Norte - 19 de agosto, 2025