17.7.24

NISA: Conheça os nossos poetas - António Borrego

Tantas vezes o vazio 
Este vazio não é silêncio
encharco-me em saudade…(às vezes raiva)...
fixando sem ver, um sol que já não aquece
crispando as mãos zangadas...de tanto não...
que futuro terei?...saberei as palavras apropriadas?...
nesta hora, de muros e vazio...
viajo pelos sonhos, pelas memórias demolidas...
nem um abraço recebo...por pequeno que fosse...
pergunto se vale a pena persistir
manter o ritmo, continuar...
oh deuses a inércia quer dominar-me
como se fosse um galo capado
ridículo e comestível...
acorda!
não deixes morrer a tua liberdade
acorda!...e escreve...
ou serás besta de tração, com orelhas compridas...
como aquelas que te punham na escola
por não saberes a tabuada…(crueldade)...
no meu sentir, navega um barco iludido...que busca ilhas...
zarpou do teu porto de abrigo
agora, implora aos ventos para voltar
abraços, acenos e despedidas…(detesto despedidas)...
exijo do meu peito a emoção de uma chegada...
estar vivo...é estar aqui...
e sentir a fascinação das próximas curvas da estrada
sabendo que foram e são muitas...
as direções de partida...e nenhum ponto de chegada...
em consciência deixo fluir as memórias
tento serenar nos solavancos emocionais
nunca soube de um rumo certo...
perco-me nesta vastidão, nesta dimensão...
dos sonhos que habito...
teria que ver novamente...
a chuva de verão a escorrer pela tua face...
escutar o que não digo...
ou então cobrir-me de tempo...envelhecendo-me...
opto pela chuva de verão...
e fazer do desejo...viagem.
A.B. 2019.