12.7.24

TEXTOS de autores nisenses - João Paulo Caetano *

O VÉU DA NOIVA: Os ingleses também são gentlemans ** 
No anterior número do Jornal de Nisa, li, com alguma tristeza e lamento, a história do futebolista “Cácá”. Não por ter sido uma promessa do “desporto-rei”, ou porque actualmente trabalha como pedreiro - profissão que é tão digna como outra qualquer, desde que exercida com honestidade e zelo -, mas sim por que como ser humano atravessa uma fase difícil da sua vida, quiçá, a jogada mais complexa da sua existência.
O “Cácá” precisa, neste momento, de todo o apoio e de toda a compreensão, nesta fase de transição para a vida real e de “descida à terra”, embora na sociedade actual, cada vez mais egoísta e do “salve-se quem puder”, esta ajuda talvez se torne numa miragem, apesar de, na verdade, o verdadeiro tesouro só se atinge na consciência adquirida, com as adversidades e nos obstáculos do presente moderno.
Há uns anos atrás, nas décadas de 80 e 90, despontava no mundo do futebol, um famoso jogador chamado Paul Merson.
Este grande futebolista, com talento e grande carisma, conseguiu ingressar no famoso Arsenal, atingindo rapidamente a titularidade e eleito o melhor jogador jovem na época de 1988/89 e sendo baptizado pelos adeptos ingleses de “the magic man”.
Merson foi convocado para a selecção, estreando-se em 1991 e tendo representado a equipa nacional por 21 vezes. No Arsenal atingiu o “posto” de capitão de equipa, vindo a representar, mais tarde, clubes como o Midlesbrough, Aston Vila, Portsmouth.
A partir de determinado momento, Paul enveredou por caminhos menos próprios para um atleta de alta competição e em 1994 admitiu ter problemas com o álcool e com a cocaína.
Os ingleses, apesar de serem um povo por vezes conservador, racista, senhores do “seu nariz” e brigões, conseguiram, apesar de tudo, fazer do seu país, uma das democracias mais antigas do mundo e onde as instituições, públicas e privadas, ainda vão funcionando.
A Federação Inglesa de Futebol (FA) integrou-o num programa de reabilitação de 3 meses, tendo regressado aos relvados em 1995, ano em que ajudou o Arsenal a atingir a final da Taça das Taças, onde defrontou o Saragoça.
Este exemplo demonstra que, muitas vezes, apesar dos títulos ganhos e das honrarias recebidas, do dinheiro auferido e da “pseudo” vida fácil, um jogador de futebol é, também, um ser humano igual a qualquer outro, vivendo entre a fronteira frágil da glória e do insucesso, da popularidade e da solidão, das palmas e dos assobios, do excesso de físico e debilidade da mente, conseguindo só o seu verdadeiro equilíbrio, quando lhe dão a sua maior e melhor prenda: uma bola para os seus pés.
Exemplos não faltam, como o do saudoso Vítor Baptista e do mediático Diego Armando “Maradona”.
Que todos os jovens candidatos a futebolistas, reflictam e atentem nestes exemplos.
Para não termos grandes “ídolos” com o futuro, eterna e ilusoriamente, adiado...
* João Paulo Calado Caetano
** Texto publicado no "Jornal de Nisa" nº 231 - 9.5.2007