23.7.24

NISA: Festas, sim, mas sem atropelos... (I)

Nisartes 2008, festa da música, animação, desporto e acima de tudo, a divulgação do riquíssimo, original e variado artesanato nisense, a que se juntou a Gastronomia.
Na sua génese e sob os auspícios da Região de Turismo de S. Mamede, as festas de Verão, os grandes eventos feitos com a intenção de reunir naturais, residentes e ausentes, tomaram o nome de Feiras de Artesanato e Gastronomia. Apresentava-se o que de melhor havia em cada concelho. As Actividades Económicas vieram depois. Claro que havia animação musical, mas esta não tomou as proporções que hoje atingiu, a ponto de, como no caso de Nisa, se destacar, apenas esta área de animação. O Crato está aí como exemplo, que Nisa tem procurado seguir como uma "cópia" reles e mal copiada, que relega para um plano secundário ou mesmo inexistente, o Artesanato e a Gastronomia. Dos concelhos do designado Norte Alentejano poucos foram os que se mantiveram fiéis à linha original destes eventos. Gavião e Arronches, distinguem-se, por isso, de forma positiva. Aliam à oferta musical, não descurando a participação de artistas locais e grupos do concelho, uma cuidada oferta gastronómica e tradicional, a par da valorização do seu artesanato. Não gastam "mundos e fundos" para uma festa de 4 ou 5 dias, mas mesmo sem grandes "cabeças de cartaz", conseguem, com menor investimento, os mesmos ou até melhores resultados, que aqueles que "investem" de forma desmesurada numa panóplia de artistas, alguns bem conhecidos e de créditos firmados;  outros, apenas de quem tem a incumbência de fazer os contratos. Estes, tal como nas operadoras de telecomunicações, vêm como "pacotes", que, por vezes e dado o volume das verbas a dispender, obrigam à duplicação de empresas que contratam os artistas.
As Festas de Verão, designadas como "Nisa em Festa" ou outra designação qualquer, não são mais que minis "Festivais de Verão" de índole musical ou perto disso, promovidas pela autarquia e que todos nós pagamos em duplicado: como munícipes, nos impostos que suportamos ao longo do ano e como "espectadores" ou clientes no caso de participação na "festa". Uma "festa" cuja preparação começa um mês antes da data de início, que causa transtornos e engulhos a muita gente, que impede o estacionamento em áreas construídas para o efeito e pior que tudo, impede a livre circulação de pessoas e bens, ao mesmo tempo que limita e congestiona o trânsito no centro da vila. O Rossio é nestes dias de Agosto um gigantesco estaleiro em obras. Obras "festivas" destinadas, essencialmente, a vangloriar a figura da edil prepotente.
A idalinal personagem não hesitou, sequer, em mandar aterrar o lago construído em 2005, inserido no projecto de requalificação da Praça da República e, por isso mesmo, objecto de aprovação na Câmara e Assembleia Municipal.
A idalinal figura desde o início do ano que faz propaganda à designada "Nisa em Festa", mas, durante todos estes meses, talvez ocupada a desenhar adereços e figuras icónicas, esqueceu-se de planear e discutir com os técnicos municipais a implantação do recinto da festa. Sabia, no entanto, que por iniciativa pessoal, sem qualquer plano e à revelia do projecto aprovado e implantado na Praça da República, mandou instalar junto ao eucalipto um mastodonte metálico a que chama, eufemisticamente, cântaro icónico. Fê-lo, por alturas do Natal e com a desculpa esfarrapada de que era para dar um ar mais alegre à época natalícia, em ano de pandemia. Seria, à partida, uma peça provisória, mas cedo se percebeu as suas intenções: apagar a memória da fonte do Rossio (que prometera recolocar na Praça) e ao mesmo tempo relegar para um plano urbanístico e paisagístico inferior, o lago que agora, despudorada e vergonhosamente, mandou aterrar.
Perante este crime de lesa património, os nisenses não podem ficar calados e indiferentes. Não são "coisas da política" como alguns referem com medo de represálias e de dar a cara. São assuntos sérios, tão sérios como a mudança da fonte e que mexem connosco que aqui vivemos e continuaremos a viver. A senhora prepotente, não. Vai e vem todos os dias de pópó que nós pagamos, para o seu domicílio em Portalegre. Quer lá saber se gostamos ou deixamos de gostar dos seus devaneios icónicos ou identitários.
O Rossio de Nisa já sofreu demasiados atentados. Não é local para Festivais Musicais e propagandísticos. Há sítios apropriados para esse efeito e com menores custos de implantação. A praça central de Nisa não pode ser transformada num gueto, sempre que as idalinais figuras, estas ou outras, o queiram. Os cidadãos são os detentores e usufrutuários do espaço público, espaços de convivência, livre e em segurança. As festas e espectáculos pagos devem ter recintos próprios e não subtraírem os espaços de fruição dos cidadãos. Não se percebe, por outro lado,  como é que as Infraestruturas de Portugal (antiga JAE) permitem o fecho e a interrupção do trânsito numa Estrada Nacional (a EN nº 18), imposição que obriga os motoristas a desvios pelas ruas da vila e a um aumento considerável de congestionamento do tráfego, em locais já de si problemáticos, como são a Avenida D. Dinis e Rua dos Lusíadas, junto ao quartel dos Bombeiros, Intermarché e Mercado Municipal e rua Visconde Vale da Sobreira. 
É tempo da Câmara perceber que vivemos em Liberdade e Democracia e não em permanente "estado de sítio" sempre que dá jeito à edilidade. Os munícipes e visitantes merecem consideração e respeito.
Mário Mendes
NOTA: Este texto foi escrito e publicado há dois anos e torno a publicá-lo porque mantém ainda mais actualidade. Os cidadãos não podem continuar a estar reféns dos caprichos e humores de uma pessoa, que pensa a vida da comunidade como se estivesse em plena época do Absolutismo.