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No passado dia 8 de março, comemorou-se mais um ano de luta das mulheres contra uma sociedade machista e discriminatória. Essa discriminação, deve-se a preconceitos ancestrais, maioritariamente por motivos religiosos. Depois, temos as opções políticas, em especial as conservadoras e da extrema-direita, que afrontam muitas conquistas, fruto de muitas lutas. Por isso as pessoas com consciência feminista, devem estar atentos e unidos contra os retrocessos medievais.
Recordo, também, a situação da mulher antes do 25 de Abril, que não tinha acesso ao voto e para sair do país, ou para trabalhar, precisava de uma autorização do marido. A revolução dos cravos, também foi uma janela de oportunidades para acabar com as injustiças de género. Foi a partir daí que muitas “emproadas” passaram a lamentar o facto de já não terem criadas a trabalhar como antes… diga-se exploradas.
Proclamada por Pio XII como a padroeira das criadas, Santa Zita era tudo o que essas “emproadas” sonhavam. Uma menina de 12 anos que trabalhava de forma escrava, com direito a cama, comida e roupa. Felizmente, hoje isso é inaceitável. A mulher foi sempre tida como uma pessoa de segunda à luz da religião e não é por acaso que a igreja católica em 1320 oficializou a caça às bruxas e não aos bruxos. Não podemos esquecer o que aconteceu a Joana d’Arc, que depois de condenada à fogueira por bruxaria, cinco séculos depois foi canonizada.
Mas há muito por fazer e para mudar. As questões domésticas ainda são vistas como relativas às mulheres; os desequilíbrios salariais mancham as relações laborais; a fragilidade laboral das mulheres que decidem engravidar, é uma vergonha a combater, até por gozarem licença parental são discriminadas. Depois, temos os números chocantes de mulheres assassinadas pelos homens a quem entregaram o coração.
Este dia, também serve para recordar os homens que abraçaram a luta contra a descriminação de género. A título de exemplo, Bertrand Russell e o Padre Mário Pais de Oliveira – não os esqueceremos. Por coincidência, o Padre de Lixa, como também era conhecido e que nos deixou há um ano atrás, nasceu no dia 8 de março. Este dia simboliza um ideal em que todos, homens e mulheres devem lutar pela igualdade de género, contra todas as injustiças.
As mulheres afegãs estão oprimidas sob uma ditadura ultra machista dos talibãs, as palestinianas, sentem as agruras da invasão israelita, as ucranianas sofrem os horrores da invasão russa, enquanto as mulheres russas são perseguidas e presas por se manifestarem contra Putin. Um pouco por todo o mundo, temos mulheres a sofrer e a lutar. António Guterres alerta que se não existirem mudanças efetivas, podemos levar três séculos a ultrapassar esta situação retrógrada. Não, não podemos esperar e não vamos parar.
O espancamento até à morte de Masha Amini[1], por violação do código de vestuário do governo religioso autocrático do Irão, provocou uma revolta, em especial na juventude feminina. Dentro do país e fora dele, muitas iranianas e algumas figuras públicas, tiveram a coragem de enfrentar o regime dos ayatollahs e exigirem que as meninas, também possam frequentar a escola. Centenas de pessoas foram mortas e milhares foram presas. São exemplos a reforçar as preocupações de quem quer lutar por um mundo justo.
Para todas as mulheres que lutam contra a discriminação o meu total apoio ao lado dessas “netas das bruxas que não conseguiram queimar”[2]. A descriminação e a violência sobre as mulheres é intolerável e o caminho está na luta por uma educação progressista e por uma revolução de mentalidades. Mulheres de todo o mundo, uni-vos! A fundadora da filosofia feminista, Mary Wollstonecraft, escreveu: «O começo é sempre hoje».
* Paulo Cardoso - Programa Desabafos - Rádio Portalegre - 10.3.2023
[1] Heroína do ano de 2022, pela revista Time.
[2] Manual de caça às bruxas: Malleus Maleficarum ("Martelo das Feiticeiras"), de 1486.