A polémica não é nova, mas tem crescido nos últimos tempos. E não será por acaso. A rede social chinesa está debaixo de fogo de vários países ocidentais por alegadamente recolher dados pessoais dos utilizadores e ser obrigada a fornecê-los ao Partido Comunista Chinês quando estiver em causa a segurança nacional daquele país. Preocupante? Nem por isso.
Até hoje não há, na verdade, nenhum indício de que a rede tenha um modo de funcionamento diferente de todas as outras, nem que atue como uma espécie de spyware, escondendo software nos dispositivos móveis para roubar ou monitorizar informação crítica.
É certo que a ByteDance, empresa proprietária da rede, confirmou que despediu quatro funcionários que espiaram dois jornalistas norte-americanos. Também é certo que Pequim bloqueia mais de 300 mil domínios aos chineses. Instagram, Facebook, YouTube, WhatsApp, Google, Telegram e Netflix são barrados pela grande firewall asiática. Portanto, sobre liberdade estamos conversados.
Mas sobre segurança dos utilizadores, o Ocidente também se pode queixar. Tem provas. A memória é curta, mas não tão passageira. O maior escândalo relacionado com privacidade envolveu empresas norte-americanas. Dados de 50 milhões de pessoas que o Facebook forneceu à Cambridge Analytica para fins políticos. Para beneficiar Donald Trump, um dos que pretenderam apagar o TikTok dos dispositivos dos cidadãos.
Estamos seguros no TikTok? Provavelmente, não. Estamos seguros nas outras redes? Não. De todo. Nada é privado. O negócio das redes sociais assenta nisso mesmo. Na recolha de dados dos utilizadores, do seu histórico, dos seus gostos, das suas preferências.
O problema é que a rede chinesa é, neste momento, a plataforma com crescimento mais rápido, especialmente entre os mais jovens. Tornou-se poderosa. Economicamente e politicamente.
Portanto, acreditar em maior segurança se o TikTok mudar de dono, como pretendem os EUA, é como acreditar nos "queridos amigos" que prometem falar de paz.
* Manuel Molinos in Jornal de Notícias - 24.3.2023