Comemorações, festejos, discursos e 25 de Abril, para trás e
para diante.
Anos antes era o 1º de Dezembro, o 5 de Outubro, o 28 de
Maio, o 1º de Maio, o 10 de Junho, o 31 de Janeiro. Datas, apenas datas com
números e nomes de meses que de uma ou outra forma invadiam o imaginário
popular.
Para os que vivem a política nacional, estas e outras datas
relembram acontecimentos que marcaram profundamente o viver dos portugueses,
para o bem e para o mal.
Acontece que no dia 10 de Abril de 1999, este vosso amigo
deu um salto à capital, mais propriamente à antiga Expo, para assistir ao
comício de lançamento da candidatura do senhor, (porque é um senhor, carago,
como diria o meu compadre Tonho de Braga) Doutor (porque é um Doutorado em
política nacional e internacional) Mário Soares ao Parlamento Europeu.
Não pretendo fazer a apologia desta candidatura pelo partido
Socialista, porque não é desta matéria que esta coluna se ocupa.
Mas esta figura incontornável da democracia portuguesa, a
par dos doutores Cunhal e Sá Carneiro existem no imaginário político português
devido ao 25 de Abril de 1974.
Um miúdo dos seus dezasseis anos, que assistia a meu lado,
perguntou-me:
- Mas o que é isto do 25 de Abril?
Simplesmente o fim de uma ditadura, que nascera em 28 de
Maio de 1926 pela mão do general Gomes da Costa e que o conduziu à patente de
marechal do exército português.
Pela mão deste homem, chegou ao poder outro homem de nome
Salazar, que foi ministro das Finanças de 30 de Maio a 30 de Julho de 1926, mas
porque a situação ainda era de alguma confusão abandona o governo. Em 15 de
Abril de 1928 é proclamado Presidente da República o general Carmona, que
nomeia para chefe do governo o general Vicente de Freitas, o qual convida
Salazar para as Finanças. Em 5 de Julho de 1932 Salazar é nomeado chefe do
governo e assim se mantém até ficar gravemente doente em 10 de Setembro de
1968.
40 anos de ditadura autocrática em que pela sua mão foram
mandados prender, demitir, ou deportar milhares de portugueses que tinham
opiniões diferentes das dele.
No seu primeiro discurso, em 1928, afirmava: “sei muito bem
o que quero e para onde vou”.
Sabia o que queria e não admitia que outros quisessem; sabia
para onde ia mas não permitia que outros escolhessem o seu próprio caminho.
Para o conseguir constituiu a polícia política, a PIDE, que
moveu uma implacável perseguição a todos os que tinham ideias contrárias às
suas.
Este homem, Salazar, morreu em 1970, deixando um
continuador, Marcelo Caetano.
Este homem, Salazar foi destituído no dia 25 de Abril de
1974 por uma sublevação militar, à qual o povo anónimo de Lisboa se juntou,
dando vivas à liberdade conquistada.
Durante quase 50 anos, trabalhadores e políticos pela
madrugada libertadora e de entre estes, Mário Soares e Álvaro Cunhal foram
figuras de proa.
Nos últimos anos do regime, Sá Carneiro liderou um conjunto
de portugueses que pugnavam por mudanças urgentes no sistema político
português.
Ao assistir no dia 10 de Abril de 1999 ao discurso de Mário
Soares, bateu-me de repente esta pergunta, mas o que é isto do 25 de Abril?
E a resposta não podia ser outra: Liberdade de pensar,
Liberdade de agir, Liberdade de decidir, Liberdade de escrever, Liberdade de
escolher, Liberdade de amar, Liberdade de viver, Liberdade, Liberdade,
Liberdade.
O que é isto do 25 de Abril? É LIBERDADE.
O que é isto do 25 de Abril? É não haver prisões como o
Tarrafal, o Aljube ou Peniche.
É não haver censura prévia na informação. É não haver falsos
valores morais decretados.
O que é isto do 25 de Abril? É liberdade de escolher
candidatos e liberdade de os rejeitar.
O que é isto do 25 de Abril? É liberdade de sonhar e de
escrever os sonhos.
O que é isto do 25 de Abril? É a liberdade de perguntar: o
que é isto do 25 de Abril?
Como também é a liberdade de perguntar se o capitão
Salgueiro Maia, não mereceria ser elevado à dignidade de Marechal do exército
português? Afinal de contas, outros que não nos deram a liberdade, antes a
cercearam, ascenderam a essa dignidade.
Mas, o 25 de Abril também é a liberdade de para mim anónimo
português, nisorro de alma e coração, nomear marechal o ilustre capitão
Salgueiro Maia, que me deu a LIBERDADE, o maior bem que possuo.
Zé de Nisa