3.4.16

Publicações periódicas do Alentejo: um património a conservar e divulgar

As publicações periódicas do Alentejo (jornais, revistas e almanaques) constituem um núcleo muito importante do património histórico e cultural da região. Com um suporte frágil como é o papel, a sua conservação levantou problemas que, desde sempre, as limitaram no tempo, criaram dificuldades acrescidas de conservação e da sua consulta posterior. A microfilmagem e a digitalização vieram potencialmente alterar a situação. Importa que o futuro transforme em factos o que é pouco mais do que uma possibilidade.
Pude até hoje identificar 1.024 títulos, dos quais consegui fazer uma leitura – ainda que transversal – de 684. Se de ambos os números posso tirar conclusões, só uma me parece indiscutível: a de que se trata de um património histórico e cultural ímpar.
Todas as restantes que eventualmente vos possa transmitir – para mais num curto texto como este – mais não são que observações de leitura pessoal susceptíveis de despertar o interesse dos leitores e estimular o aparecimento de iniciativas que contribuam para a conservação, divulgação e estudo dum tão importante património.
O "Distrito de Portalegre" é neste momento o mais antigo jornal do Alentejo ainda em publicação. Tendo iniciado a 26 de Novembro de 1884 como independente, passaria em Setembro de 1889 a órgão do Partido Progressista até à implantação da República. A 22 de Janeiro de 1938 passa a apresentar-se como órgão da Acção Católica. Hoje, está ligado à Diocese, tal como "A Defesa" (Évora, 1923- ) e "Notícias de Beja" (1928- ) o estão relativamente às dioceses de Évora e Beja, respectivamente. Sendo os mais emblemáticos títulos da Igreja Católica, muitos outros se publicam em alguns concelhos. Por outro lado, inscrevendo-se no grupo do que poderemos classificar de imprensa generalista, aí emparceiram com os títulos mais conhecidos como "O Diário do Alentejo" (Beja, 1932- ), "Brados do Alentejo" (Estremoz, 1931- ), "Fonte Nova" (Portalegre, 1984- ), "Alentejo Popular" (Beja, 2003- ), "Linhas de Elvas" (1950- ), "Correio do Alentejo" (Beja, 2006- ) ou "Diário do Sul" (Évora, 1969, este o único diário actualmente em publicação. Escrevi «emparceiram» dado que, neste mesmo grupo, embora tendo cessado a publicação, se destacaram, por exemplo, "A Rabeca" (Portalegre, 1916-1988), "Democracia do Sul" (Montemor-o-Novo / Évora / Setúbal, 1902-1974), "O Manuelinho d' Évora" (1880-1904), "A Plebe" (Portalegre, 1896-1932), "A Folha do Sul" (Montemor-o-Novo, 1897-1946), "Ala Esquerda" (Beja, 1925-1937), "O Eco de Reguengos" (Reguengos de Monsaraz, 1909-1957), "O Bejense" (1911-1944), "O Notícias d' Évora" (1900-1983), "A Mocidade" (Ponte de Sor, 1926-1940), "Nove de Julho" (Beja, 1885-1910) e "A Sentinela da Fronteira" (Elvas, 1881- 1891), entre outros.

Se este conjunto de jornais generalistas constituem só por si uma fonte inesgotável de informação, ainda que, como todas as fontes, exija cuidados adequados na sua utilização, títulos dedicados a temas específicos virão lembrar-nos a multiplicidade de interesses, hábitos, carências e gostos na vida da região. Ou de sectores sociais bem definidos dela.
O desporto faz-nos recordar, em Beja, "Beja Sportiva" (1931) ou "O Ás" (1981-2009), em Évora, "A Evolução Sportiva" (1913-1914), em Elvas, "Elvas Desportiva" (1927-1930), além de muitos boletins dos clubes locais, por vezes de colaboração variada e de muita qualidade.
A organização e luta dos trabalhadores dão exemplos múltiplos de dinamismo, do "Caixeiro do Sul" (2 séries, "Beja", 1911-1913 e 1915-1917) ao "Solidariedade" (Elvas, 1918-1929), do "Trabalhador Rural" (Évora, 1912-1914) à "Voz do Mineiro" (Mina de S. Domingos, 1930-1931).
Nos liceus, nos colégios, na Universidade e Institutos, a vida académica vai produzindo publicações de abrangência, motivações e qualidade naturalmente diversas, mas reveladoras de uma intensa vida colectiva. Aí estiveram ou estão "O Normalista" (Portalegre, 1915-1917), "O Académico" (Évora, 1913-1914), "A Folha Académica" (Beja, 1919-1920), "O Corvo" (Évora, 1921-1976), "A Academia" (Portalegre, 1893), "O Leme" (Évora, 1952-1954), "Aprender" (Portalegre, 1987- ), "Revué" – Revista da Universidade de Évora (2004-) que, entre outros, o provam sobejamente. "O Animatógrafo" (Évora, 1919-1920), O "Almanaque Literário e Charadístico para 1880" (Cuba, 1880), "O Jornal Filatélico" (Beja, 1908), "Adágio" (Évora, 1990- ), "O Microscópio" (Messejana, 1882) abarcam terrenos do campo recreativo e cultural, polarizadores dos hábitos de camadas muito bem definidas das populações.
A história local, a etnografia, a antropologia, que tem pela imprensa generalista um leque muito vasto de colaboradores, começou com "A Tradição" (Serpa, 1899-1904) uma experiência editorial própria, que vai ser continuada com "Revista Transtagana" (Évora, 1934-1956), "A Cidade de Évora" (1942-), "Arquivo de Beja" (1944- ), "A Cidade" – Revista Cultural de Portalegre (1981- ), "Ibn Maruan" (Marvão, 1991- ), "Almansor" (Montemor-o-Novo, 1983), "Callipole" (Vila Viçosa, 1993- ), "Elvas-Caia" (Elvas, 2003- ) ou "Plátano" (Portalegre, 2005- ).

Encerrando esta muito breve panorâmica, seria imperdoável não referir o sector em que este mesmo almanaque se inscreve: o das publicações periódicas feitas a partir da "diáspora" alentejana. Antes de qualquer outro "Grémio Alentejano" (Coimbra, 1861-1862), bem mais tarde "Revista Alentejana" (Lisboa, 1935-2003), "Almanaque Alentejano" (Lisboa, 1.ª série 1939-1972, 2.ª série 2005- ), "Alma Alentejana" (Cova da Piedade, 1998- ), "Memória Alentejana" (Lisboa, 2001- ) e "Revista Alentejo" (Lisboa, 2004- ).
Um tão rico património, de que esta memória mais não pode ser que um apelo ao vosso interesse, tem que ser conservado e colocado ao dispor de quem o queira consultar.
As bibliotecas das autarquias do Alentejo certamente o não esquecem.
Aquelas que beneficiam das obrigações do Depósito Legal, bom é que por aí se não fiquem. É que elas não são armazéns, nem salas de conferências, nem galerias para expor as primeiras páginas. Ou não o são apenas. São os locais onde, quem pretende ler, procura e deve ser atendido. É para isso que existem.

Vivaldo Quintans