Foi há 30 anos de Chernobyl
30 anos após a
explosão, a explosão de um reactor, a catástrofe continua.
Mais de 8 milhões de pessoas (a populacão de Portugal
continental) vivem em territórios contaminados da Rússia, Ucrânia e
Bielorússia, obrigadas a consumir quotidianamente produtos altamente
contaminados.
Entre essas numerosas crianças sofrem de cancros e
leucemias, malformações e patologias cardio-vasculares.
Os atentados ao património genético são hereditários e as
autoridades minimizam descaradamente o número de vítimas, que segundo
investigação dos profs Nesterenko e Yablokov, publicados em 2020 pela Academia
das Ciências de Nova York já teriam atingido 985 000 (quase um milhão!) de
falecimentos prematuros de 1986
a 2004. E o florescimento da natureza, flora e fauna é
um mito dados os elevados níveis de contaminação e mutações que está a ocorrer.
Recordo como se fosse hoje.
Estava dia 27 de Abril em Amsterdão, fazia então parte da
direcção internacional do movimento ecologista #Friends Of the Earth#, quando
nos chegou a notícia do acidente nuclear de Chernobyl que a ditadura soviética
tinha procurado escamotear.
As radiações já atravessavam a Europa, milhares de
pessoas começavam a ser evacuadas, muitas centenas, hoje muitos milhares já
estavam, continuam hoje a caminho da morte.
Em Lisboa tinha começado há alguns dias no mestrado de
Economia de Energia um módulo com um técnico do Laboratório Nuclear do então
INETI, com o qual tinha tido discussões ágrias, que tinham terminado com um
definitivo “- não é possível um reactor nuclear explodir.” Da parte dele.
Imagine-se a cara o sujeito quando voltei no dia seguinte
e a notícia já era tema de todas as notícias.
Pode, um reactor nuclear pode explodir. Claro que no
quadro de uma imprevisível conjugação de circunstâncias todas elas negativas.
Mas pode. É possível!
Neste aniversário pouco mais há para dizer. A nuclear
continua a tenta vender-se, continua a comprar mentes e encher bolsos, apesar
de ser uma indústria a bordejar a falência, total. Mas será uma falência de
muitos, muitos milhões e até lá continua a estrebuchar.
A nuclear não é económica, não é ambientalmente limpa,
seja no início do ciclo, a mineração de urânio, que como sabemos no nosso país
ainda tem um legado de destruição ambiental, sofrimento e mortes na família
mineira e nas populações das zonas circundantes, seja na produção,
e recordemos Almaraz, aqui ao lado, com os problemas
contínuos do seu funcionamento, os incidentes e acidentes inúmeros e agora, com
o passar do tempo a insegurança crescente, a que o nosso ministro do Ambiente
continua a fazer orelhas moucas, mas não esqueçamos lutas árduas contra a nuclear em
Portugal, Ferrel e todas as tentativas de nos colocar nucleares de
Trás-os-Montes ao Alentejo, que tiveram oposição determinada, as lutas contra
os despejos nucleares no Atlântico ou o cemitério nuclear de alta-actividade
radioactiva de Aldeavila.
Não podemos esquecer também o urânio enriquecido e os
mortos, também portugueses no teatro de operações onde esse foi utilizado.
Em todos esses casos, em todas essas lutas estivemos
presentes.
Hoje aqui deixo este testemunho. Para que não se repita
(mas e Fukushima?), para que não se repita mais.
Para que Chernobyl não se chame Almaraz, algum dia.
Encerremos Almaraz e nem uma palavra mais!
António Eloy membro do Movimento Ibérico Antinuclear
ant.eloy@gmail.com
Tele 919289390