Nisa - Porta de Montalvão - Outubro 1988
Saudade
Saudade
- O que será... não sei... procurei sabê-lo
em
dicionários antigos e poeirentos
e
noutros livros onde não achei o sentido
desta
doce palavra de perfis ambíguos.
Dizem
que azuis são as montanhas como ela,
que
nela se obscurecem os amores longínquos,
e
um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
a
nomeia num tremor de cabelos e mãos.
Hoje
em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
seu
segredo se evade, sua doçura me obceca
como
uma mariposa de estranho e fino corpo
sempre
longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.
Saudade...
Oiça, vizinho, sabe o significado
desta
palavra branca que se evade como um peixe?
Não...
e me treme na boca seu tremor delicado...
Saudade...
Pablo
Neruda, in "Crepusculário"