A afirmação que
assumo como título deste texto, o último a ser subscrito como Coordenador da
USNA/cgtp-in é a transcrição de um ditado popular usado na nossa região.
A dúvida colocada
é justificada tão só pela proximidade da data em que deixo a coordenação da
União e procuro "acertar o passo" com o que quero que seja o meu
futuro imediato.
Os projectos, em
particular os que deixaram de ser projectos de vida para se assumirem como o
projecto de uma vida, como foi o caso, marcam-nos sempre, mesmo que o não
queiramos admitir. Este não foi diferente, tanto mais que o Movimento Sindical
de classe e a União fazem parte da minha vida desde a juventude. Foram a família mesmo antes de ter constituído a
minha família.
Quando casei em
1980, quando nasceram os meus filhos, hoje com 34 e 31 anos, os meus dias (e
tantas vezes as noites) eram guiados a partir da velha sede da União, na Travessa da Liberdade, no edifício onde hoje está sediada a delegação local do
Novo Banco.
Ali, com outros
camaradas e amigos, desenhei o programa das comemorações do 1º de Maio de 1978
e com o Joaquim Miranda então à frente do Secretariado Distrital das UCP's e
Cooperativas e o António Ramos do Sindicato Agrícola, preparámos a vinda e
distribuição das máquinas agrícolas oferecidas pela União Soviética às
cooperativas do distrito.
Ali, com dezenas
de outros camaradas, defendemos o edifício perante a turba enraivecida
convocada pela CAP para o Rossio, naquela que seria a primeira manifestação da
CAP a sul do Tejo.
Foi ainda a
partir daquele edifício, onde estavam sediados o Sindicato dos Trabalhadores da
Agricultura, o Secretariado das UCP´s e Cooperativas e a União dos Sindicatos do
Distrito de Portalegre, que planificámos, coordenámos e dirigimos a primeira
Greve Geral realizada no pós 25 de Abril.
Foram trinta e
sete anos de intensa actividade em que percorri com muitos outros o caminho que
une a minha condição de jovem acabado de deixar o serviço militar obrigatório
(os vencedores do 25 de Novembro passaram-me de forma compulsiva à
disponibilidade a 2 de Dezembro de 1975) e profundamente empenhado no processo
revolucionário e em particular no desenvolvimento das Unidades Colectivas de
Produção Agrícolas, ao homem que ultrapassou os sessenta, marido, pai e avô que
continua a acreditar que os homens e mulheres, todos e todas hão-de um dia
libertar-se das grilhetas e, como dizia o poeta referindo-se ao Alentejo,
hão-de cantar!
Agora aos 24 dias
de Junho de 2015, 37 anos depois daquela noite de Fevereiro de 1978, é preciso
aprender a gostar de mim. Aprender a libertar-me dessa carapaça que me
acompanhou ao longo de décadas e a tornar possível que sejam outros e outras,
jovens, entusiastas e sonhadores a assumirem o seu papel.
Procurar
(acreditem que não vai ser fácil) estar disponível se solicitado sem atrapalhar
quem ficou e assumir novos projectos e batalhas.
Diogo Serra - 2015-06-24