12.8.24

OPINIÃO: Extrema-direita: a importância de falar

 
O primeiro condenado na onda de desacatos no Reino Unido viu ser-lhe aplicada uma pena de três anos de prisão. Derek Drummond já tinha 14 condenações anteriores e confessou ter participado no motim e ter atirado objetos a polícias. Centenas de detidos estão a chegar aos tribunais, depois de uma semana em que as ruas foram tomadas pela raiva, alimentada a notícias falsas e mensagens de ódio contra migrantes e refugiados.
A violência que nos tem chegado através das notícias e de relatos da comunidade portuguesa justifica reflexão. Desde logo, pela velocidade a que as informações falsas sobre o atacante de Southport circularam entre grupos de extrema-direita, mostrando como não há esclarecimentos ou factos capazes de travar uma mentira em que demasiadas pessoas gostam de acreditar.
Importa olhar, por outro lado, para a capacidade de mobilização da extrema-direita. Como um exército do mal, em poucos dias tomou progressivamente ruas e cidades, mostrando que o ódio não se limita a gritos de ordem, mas tem corpo, armas e sangue. Os riscos do nacionalismo, do extremismo e da intolerância não são teóricos ou imaginados: são reais e capazes de impor o caos com operações disseminadas em grupos estruturados e através das redes sociais.
Só por ingenuidade se pode acreditar que a ameaça da extrema-direita é um assunto exagerado pela comunicação social e que meia dúzia de sinais mais violentos não deve causar preocupação. Importa, pelo contrário, continuar a fazer perguntas incómodas. Que capacidade operacional têm os grupos extremistas? Que grau de organização apresentam, por exemplo em Portugal? Que vigilância têm as autoridades exercido sobre eles, quando assistimos a incidentes cada vez mais ostensivos em eventos e locais públicos? Este é um tema que nos deve convocar a todos, porque só unidos na defesa dos valores democráticos travaremos a violência, a xenofobia e a intolerância. Tal como nas ruas de Londres a união e os gritos antirracistas ocuparam as ruas, tomando-as antes que o ódio o fizesse.
Inês Cardoso – Jornal de Notícias -11 agosto, 2024