O primeiro condenado na onda de desacatos no Reino
Unido viu ser-lhe aplicada uma pena de três anos de prisão. Derek Drummond já
tinha 14 condenações anteriores e confessou ter participado no motim e ter
atirado objetos a polícias. Centenas de detidos estão a chegar aos tribunais,
depois de uma semana em que as ruas foram tomadas pela raiva, alimentada a
notícias falsas e mensagens de ódio contra migrantes e refugiados.
A violência que nos tem chegado através das
notícias e de relatos da comunidade portuguesa justifica reflexão. Desde logo,
pela velocidade a que as informações falsas sobre o atacante de Southport
circularam entre grupos de extrema-direita, mostrando como não há
esclarecimentos ou factos capazes de travar uma mentira em que demasiadas
pessoas gostam de acreditar.
Importa olhar, por outro lado, para a capacidade de
mobilização da extrema-direita. Como um exército do mal, em poucos dias tomou
progressivamente ruas e cidades, mostrando que o ódio não se limita a gritos de
ordem, mas tem corpo, armas e sangue. Os riscos do nacionalismo, do extremismo
e da intolerância não são teóricos ou imaginados: são reais e capazes de impor
o caos com operações disseminadas em grupos estruturados e através das redes
sociais.
Só por ingenuidade se pode acreditar que a ameaça
da extrema-direita é um assunto exagerado pela comunicação social e que meia
dúzia de sinais mais violentos não deve causar preocupação. Importa, pelo
contrário, continuar a fazer perguntas incómodas. Que capacidade operacional
têm os grupos extremistas? Que grau de organização apresentam, por exemplo em
Portugal? Que vigilância têm as autoridades exercido sobre eles, quando
assistimos a incidentes cada vez mais ostensivos em eventos e locais públicos?
Este é um tema que nos deve convocar a todos, porque só unidos na defesa dos
valores democráticos travaremos a violência, a xenofobia e a intolerância. Tal
como nas ruas de Londres a união e os gritos antirracistas ocuparam as ruas,
tomando-as antes que o ódio o fizesse.
Inês Cardoso – Jornal de Notícias -11 agosto, 2024