1.8.24

OPINIÃO: Os alvos de Netanyahu

A instabilidade no Médio Oriente está para durar, evidência sublinhada agora por uma nota importante de clarificação: o Governo de Israel não está interessado num acordo de paz com os palestinianos.
O atentado que resultou na morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em solo iraniano, funciona como uma declaração de desinteresse total pela estabilidade na região. Seja qual for a argumentação - e não faltarão motivos a israelitas (e palestinianos) para se defenderem -, matar o negociador no decurso das negociações não lembra ao demónio. Talvez encaixe é muito bem no plano de Benjamin Netanyahu, ainda que a estratégia esteja longe, parece-me, de servir os interesses do povo israelita. Encontra apenas explicação na necessidade de afirmação do primeiro-ministro de Israel, um líder extremista cuja popularidade já conheceu melhores dias. A abertura de uma nova frente de guerra, e logo com o Irão, poderá ser-lhe útil na tentativa desesperada de unir o país à sua volta, sobretudo se acontecer a previsível resposta iraniana, que desta vez pode ser mais eficaz do que a chuva de drones bloqueada há um par de meses.
Netanyahu é um exemplar dessa casta de líderes políticos que não olham a meios para se manterem no poder. No mês passado, uma grande sondagem do canal israelita “12” concluía que dois terços dos inquiridos defendiam que não deveria tentar a reeleição. Encostado à parede pelo próprio povo e pelos extremistas de direita que suportam a coligação governamental, que ameaçam romper em caso de acordo com os palestinianos do Hamas, Netanyahu coloca o conflito ao serviço dos seus próprios interesses, ignorando os milhares de inocentes transformados em alvos.
Vítor Santos – Jornal de Notícias - 01 agosto, 2024