Fontes do Governo Regional “apressaram-se a desmentir a
informação numa tentativa de ‘assassinato profissional’”, denuncia o
DN/Madeira, que fala em dualidade de critérios na permissão de acesso às zonas
afetadas pelos incêndios.
A delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas
denunciou esta quinta-feira o que classifica como “clima de pressões e
restrições” na atividade dos profissionais envolvidos na cobertura do incêndio
que lavra na ilha há dez dias.
“As pressões atingem também os responsáveis pelos órgãos de
comunicação social, que são pressionados a desmentir notícias que depois se
confirmam serem verdadeiras”, refere o sindicato, num comunicado assinado pelo
presidente da delegação regional, Filipe Alexandre Gonçalves.
Entre outras situações, o Sindicato dos Jornalistas destaca
a informação divulgada na quarta-feira pelo DN/Madeira sobre a ativação do
Mecanismo Europeu de Proteção Civil para envio de dois aviões Canadair de
combate a incêndios.
Após a publicação da notícia, fontes do Governo Regional
apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de ‘assassinato
profissional’, como refere o diretor [do DN/Madeira], Ricardo Miguel Oliveira.
Duas horas depois, é o próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo
Regional, a confirmar a vinda dos dois meios aéreos para a Madeira”, refere o
sindicato.
Governo e Proteção Civil desmentem
Questionada pela Lusa, fonte da Secretaria da Saúde e
Proteção Civil disse que o executivo não desmentiu a notícia referente aos
aviões Canadair, tendo apenas indicado que aquela informação “carecia de
confirmação”, uma vez que o processo de decisão ainda estava em curso.
O Governo Regional já tem vindo a desmentir várias
informações, como a polémica questão da Floresta Laurissilva, enquanto os
investigadores especialistas alertam cada vez mais para “uma desvalorização por
parte do presidente do Governo regional”.
Outra das situações reportadas à delegação regional
aconteceu, segundo o sindicato, no sábado, com a “restrição de jornalistas,
operadores de imagem e fotojornalistas no acesso à freguesia do Curral das
Freiras”.
De acordo com estrutura representativa, “houve indicações
claras por parte da PSP para não permitir o acesso da comunicação social ao
local, sendo que esta dificuldade só foi superada após vários contactos para
que pudessem permitir a passagem dos jornalistas”.
“O que este sindicato não entende é a dualidade de critérios
na permissão de passagem na estrada encerrada pelos agentes da PSP. Permitiram
um deputado do JPP circular, em ação de campanha, e impediram os jornalistas de
passar para exercer a sua atividade: informar”, alerta.
A delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas diz
entender que sejam criados perímetros de segurança, mas não aceita que o acesso
à informação possa ser posto em causa.
“Também não vamos admitir que os jornalistas sejam alvo de
pressões ou ataques à liberdade de informar. Iremos estar muito atentos e não
deixaremos que tais situações voltem a repetir-se”, sublinha a nota assinada por
Filipe Alexandre Gonçalves.
Ponto de situação dos incêndios
O incêndio na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto,
nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos
concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para
saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos
públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção dos da
Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas
temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de
infraestruturas essenciais. Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão
ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
Nesta sexta-feira, o fogo mantém-se na cordilheira central,
mas atenuou na Ponta do Sol.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios
Florestais apontam para mais de 5.000 hectares de área ardida.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do
incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse
tratar-se de fogo posto.
ZAP - 23 Agosto, 2024