23.8.24

Jornalistas “pressionados a desmentir notícias” sobre fogo na Madeira

Fontes do Governo Regional “apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de ‘assassinato profissional’”, denuncia o DN/Madeira, que fala em dualidade de critérios na permissão de acesso às zonas afetadas pelos incêndios.
A delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas denunciou esta quinta-feira o que classifica como “clima de pressões e restrições” na atividade dos profissionais envolvidos na cobertura do incêndio que lavra na ilha há dez dias.
“As pressões atingem também os responsáveis pelos órgãos de comunicação social, que são pressionados a desmentir notícias que depois se confirmam serem verdadeiras”, refere o sindicato, num comunicado assinado pelo presidente da delegação regional, Filipe Alexandre Gonçalves.
Entre outras situações, o Sindicato dos Jornalistas destaca a informação divulgada na quarta-feira pelo DN/Madeira sobre a ativação do Mecanismo Europeu de Proteção Civil para envio de dois aviões Canadair de combate a incêndios.
Após a publicação da notícia, fontes do Governo Regional apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de ‘assassinato profissional’, como refere o diretor [do DN/Madeira], Ricardo Miguel Oliveira. Duas horas depois, é o próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, a confirmar a vinda dos dois meios aéreos para a Madeira”, refere o sindicato.
Governo e Proteção Civil desmentem
Questionada pela Lusa, fonte da Secretaria da Saúde e Proteção Civil disse que o executivo não desmentiu a notícia referente aos aviões Canadair, tendo apenas indicado que aquela informação “carecia de confirmação”, uma vez que o processo de decisão ainda estava em curso.
O Governo Regional já tem vindo a desmentir várias informações, como a polémica questão da Floresta Laurissilva, enquanto os investigadores especialistas alertam cada vez mais para “uma desvalorização por parte do presidente do Governo regional”.
Outra das situações reportadas à delegação regional aconteceu, segundo o sindicato, no sábado, com a “restrição de jornalistas, operadores de imagem e fotojornalistas no acesso à freguesia do Curral das Freiras”.
De acordo com estrutura representativa, “houve indicações claras por parte da PSP para não permitir o acesso da comunicação social ao local, sendo que esta dificuldade só foi superada após vários contactos para que pudessem permitir a passagem dos jornalistas”.
“O que este sindicato não entende é a dualidade de critérios na permissão de passagem na estrada encerrada pelos agentes da PSP. Permitiram um deputado do JPP circular, em ação de campanha, e impediram os jornalistas de passar para exercer a sua atividade: informar”, alerta.
A delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas diz entender que sejam criados perímetros de segurança, mas não aceita que o acesso à informação possa ser posto em causa.
“Também não vamos admitir que os jornalistas sejam alvo de pressões ou ataques à liberdade de informar. Iremos estar muito atentos e não deixaremos que tais situações voltem a repetir-se”, sublinha a nota assinada por Filipe Alexandre Gonçalves.
Sobre a atuação da PSP, a fonte do Governo Regional remeteu para a força de segurança.
Ponto de situação dos incêndios
O incêndio na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais. Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
Nesta sexta-feira, o fogo mantém-se na cordilheira central, mas atenuou na Ponta do Sol.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.000 hectares de área ardida.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.
ZAP - 23 Agosto, 2024