Estou
no café A Brasileira, da Invicta, onde, sempre que posso, escrevo a minha
crónica do JN. Insisto em vir aqui para sentir o café do seu fundador Adriano
Telles, homem que muito gostava de ter conhecido.
Ele,
que emigrou para Minas Gerais onde casou e fez fortuna. Aliás, em 1905, quando
criou A Brasileira, trouxe um staff para Portugal para ajuda-lo a introduzir o
gosto de beber café. Hoje, eu e outra pessoa, bem vestida e com alguma idade,
somos os únicos portugueses neste café. Nas mesas estão turistas espanhóis,
franceses, americanos e brasileiros. A servir, só brasileiros e cabo-verdianos.
Recentemente
estive no Algarve e nunca fui servida por um português. Nem num supermercado,
onde até a voz que saía do altifalante era brasileira. Na creperia onde sempre
fui, agora tive de falar nem sei bem que idioma para pedir o meu crepe de
férias. Era um nepalês, não falava português e mal percebia o inglês. Era muito
simpático e lá nos entendemos.
No
cabeleireiro, todos falavam brasileiro. O rapaz que me atendeu não teria mais
de 30 anos. É de Brasília, gosta do seu país, mas aqui encontrou mais
segurança. Tinha sido chefe de cozinha no Brasil e aqui é cabeleireiro, embora
sonhe entrar na faculdade para estudar química.
Mas
o que terá acontecido? Onde estão os portugueses? Desapareceram? Não tenho
problemas com os emigrantes, de quem sou também descendente e com muita honra.
Mas tenho problema em não saber dos portugueses! E é urgente o Estado perceber
este facto e tomar medidas. Aliás, já não sei se todos estes migrantes mudaram
de cidade ou se as cidades é que mudaram de lugar.
Paula
Teles