Um país sem pactos de regime é um país a definhar no máximo
atrito de quem se moderniza e evolui socialmente a passo de caracol. Os
partidos portugueses têm dificuldades em alcançar consensos em eixos
estruturantes, como a Saúde ou a Educação, e, naturalmente, esta realidade tem
consequências. Nenhum governo conseguirá resolver de um dia para o outro o
problema das urgências ou a dificuldade que os alunos do Ensino Superior
enfrentam, principalmente os que estudam fora da área de residência. Em
Portugal, um estudante universitário gasta, em média, 900 euros por mês - mais
do que um salário mínimo, portanto -, sendo a fatia maior canalizada para
despesas com a habitação. São cerca de 75 mil as camas em falta e há muita
gente a dormir com o colchão bem forrado, atendendo ao preço das rendas. Os
nossos jovens são, a par dos velhos, os que mais sofrem para conseguir uma
casa, e não mereciam encontrar a porta mais eficaz do elevador social trancada
porque sucessivos governos não conseguem solucionar um problema identificado há
muito. Luís Montenegro dissertava ontem, no Pontal, sobre a igualdade de
oportunidades, apontando ao Portugal do futuro. Mas qual futuro? Um país sem
esperança não cresce e o risco de os jovens a perderem, bloqueados no acesso à
universidade, pode ser dramático, porque é evidente que nem todas as famílias
podem canalizar 900 euros por mês para ter um filho a estudar. Se a situação
continuar fora de controlo - no que concerne às rendas e à falta de camas - o
elevador social passará a ter a forma de um funil com saída destinada apenas
aos que tiveram a felicidade de nascer no seio de uma família abastada.
Vítor Santos – Jornal de Notícias -15 agosto, 2024
** Cartoon de Henrique Monteiro em https://henricartoon.blogs.sapo.pt