As medidas anunciadas por António Costa não respondem aos principais problemas dos jovens nem diminuem o adiamento do ciclo familiar dos mais novos. Os agregados que ainda incluem estudantes sabem-no bem.
Este pacote de medidas não é uma “lei cartaz”, como o programa Mais Habitação foi classificado pelo presidente da República e pela Oposição, mas não está muito longe disso.
À precariedade, salários miseráveis e falta de acesso à habitação, o Governo acena com uma série de soluções e ilusões, entre as quais a devolução aos estudantes das propinas pagas no ensino público (697 euros) por cada ano de trabalho em Portugal, a devolução das propinas de mestrado, até 1500 euros, nas mesmas condições, e a gratuitidade dos passes de transporte sub-23, excluindo, assim, muitos daqueles que estão a concluir os mestrados.
Percebe-se a desilusão dos que, neste momento, precisam de uma ajuda efetiva para concluir os estudos e ingressar no mercado de trabalho, sendo que não será a devolução de 697 euros que vai convencer os jovens recém-formados a optarem por trabalhar em Portugal. Se o conseguirem ou não forem falsos recibos verdes... Nem as alterações às regras de acesso ao IRS Jovem, também anunciadas por António Costa.
Se a ideia fosse ajudar os alunos e as suas famílias, as propinas deveriam ser abolidas e não constituírem a principal fonte de financiamento do Ensino Superior, conforme defendem outros partidos.
O primeiro-ministro anunciou ainda um cheque-livro quando os alunos perfizerem 18 anos, um passe para uma semana na rede das Pousadas da Juventude e quatro bilhetes de viagem da CP para “conhecer a diversidade, a beleza, a riqueza e o interesse” do país. Prendas que só podem ser entendidas como de cortesia para um Natal que chegou mais cedo.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias -08 setembro, 2023