O Porto está uma cidade em obras, algumas de que se não percebe utilidade e incomodam os utentes, caso da Avenida da Boavista, e os perfis sociais e económicos das mesmas alteram, mudando assim a imagem e futuro das zonas.
Na minha rua passou-se isso, na zona da Faria Guimarães as alterações funcionais levaram e estão a levar nas redondezas a grandes alterações comerciais e sociais, o que muda o perfil humano de cidade.
A urbanística municipal, quando planeia ou interfere, deveria pensar nisto, nas consequências económicas e humanas e no acompanhamento que estas transformações trazem à funcionalidade da cidade.
Sendo o Porto “uma cidade de freguesias”, como lhe chamou e bem Hélder Pacheco, deveriam ser desenvolvidas tarefas de esclarecimento e acompanhamento das situações por parte dos responsáveis políticos destas e apoio municipal, pois sendo as alterações locais é o todo urbano que se transforma.
A evolução etária da população é um facto incontornável do envelhecimento urbano, mudam as atividades e ofertas comerciais, mudam as procuras e aparecem novas atividades, muitas nada tendo a ver com as antigas tradições mas ditadas por mecanismos explorativos de mão de obra emigrante e pouco qualificada, que o país e a cidade recebem sem absorver social e civicamente e sem as autoridades controlarem a raiz do negócio de exploração dos mais frágeis.
Tudo isto se passa nas nossas ruas e não é por aqui que a cidade evolui e se moderniza, pois a “cidadania portuense” não se reforça com “enxertos” artificiais mas com atividades e cidadãos capazes de ler o passado da cidade e o assimilar com novos objetivos e linguagens.
Não cabe só à Câmara esta tarefa mas passa por ela, pois de festas todos gostam mas alguém tem de vir depois apanhar as canas e parece estarmos num país festeiro em que só há sucessos, o futuro é “um mar de rosas”.
* Gomes Fernandes - Jornal de Notícias - 31.8.2023