Este fim de semana muitos portugueses irão apreciar um dos prazeres simples da vida, ainda gratuito. Vão deslocar-se até à praia, apanhar sol e dar uns mergulhos. Uma oportunidade para relaxar e tentar deixar as preocupações (muitas) de lado. O privilégio resulta de uma intensa crista anticiclónica localizada sobre a Europa Ocidental. Em suma, as temperaturas poderão atingir 37 graus em algumas zonas do continente e não está afastada a hipótese de uma onda de calor para os próximos dias. Os valores estão cinco a oito graus acima da média habitual para esta altura do ano. As portas do inferno já abriram, como alertou António Guterres numa nova cimeira sobre o clima, e a Humanidade está a ser empurrada lá para dentro, mesmo que vá de toalha de praia debaixo do braço.
É neste triste contexto que surgem as violentas manifestações de jovens um pouco por todo o Mundo. Violentas e ilegítimas quando os protestos assumem características anticívicas. O ataque ao ministro do Ambiente com ovos e tinta verde e a contestação dos ativistas na FIL são apenas os exemplos mais recentes.
Mas convém que a classe política não se coloque no lugar de virgens ofendidas. É certo que o país tem dado passos importantes, como a utilização de fontes de energia renovável ou tratamento de águas residuais, entre outros, e que as alterações climáticas são cada vez mais uma prioridade nacional. Mas tem ainda muito caminho a fazer. Na gestão da paisagem, na luta contra os incêndios, na mobilidade, nas medidas fiscais, etc.
Em Portugal, seis jovens ativistas moveram uma ação contra 32 países. Nos EUA, 13 estudantes colocaram o estado de Montana em tribunal, que lhes deu razão. Noutros países, há mais 34 casos entregues à Justiça. Há quem tente fechar a porta para o inferno, mas para a encerrar é preciso batê-la com força para que todos ouçam.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias -29 setembro, 2023