O Governo não fez o suficiente para se aproximar das reivindicações dos professores. É isso que pensa uma clara maioria dos portugueses (62%), como se pode ler na sondagem que publicamos hoje no JN (ver página 10).
Há duas leituras políticas significativas neste resultado. Desde logo, que os portugueses estão sintonizados com os sucessivos apelos do presidente da República, que, antecipando um arranque de ano letivo tumultuoso, passou o verão a pressionar o Governo a não fechar a porta à negociação, no que diz respeito aos seis anos, seis meses e 23 dias de carreira “congelados”, mesmo quando admitiu que não seria possível dar, no curto prazo, tudo o que pedem os sindicatos.
A segunda leitura é que, ao contrário do que se foi escrevendo e dizendo, os professores não perderam o apoio da opinião pública. Há um outro dado da sondagem que o reforça, mesmo que os números sejam mais modestos. Quando confrontados com greves logo no arranque do ano letivo, são em maior número os que concordam com essa forma de luta (45%) do que aqueles que a rejeitam (36%).
Mas talvez seja precipitado concluir destes resultados que os professores e os sindicatos têm carta-branca. Porque as famílias cujas crianças frequentam a escola pública estão bem cientes dos efeitos de vários anos de turbulência, desde o fecho radical na pandemia e o seu catálogo de problemas para o futuro, a todo um ano letivo (o último) com greves sucessivas, escolas tantas vezes fechadas, programas por cumprir, aprendizagens por recuperar.
É verdade que a sondagem parece indicar que o chão foge mais depressa debaixo dos pés do Governo, mas também os professores caminham sobre gelo fino. Nenhuma sociedade aguenta uma guerra permanente nas escolas. Acabará por se virar contra todos. E o preço mais elevado será pago pelos alunos.
Rafael Barbosa - Jornal de Notícias - 21 setembro, 2023