26.5.23

OPINIÃO: País centralista, até nos apoios aos festivais

Tina Turner esteve duas vezes em Portugal. Em 1990 atuou no Estádio de Alvalade e, em 1996, deu um concerto no Estádio do Restelo. Nessa altura, não era surpreendente que os melhores artistas passassem apenas por Lisboa durante as digressões.
O país esteve arredado dos circuitos internacionais de espetáculos e só nos anos 80 começou a receber grandes concertos, sobretudo na capital. No Porto, contavam-se pelos dedos, mas foi na Invicta que nomes sonantes da música se estrearam em Portugal, como Iggy Pop, Iron Maiden, Lene Lovich, Dexys Midnight Runners, entre outros. Momentos que, pela falta de oferta, eram vividos com entusiasmo e programados pelos espectadores com largos meses de distância. O Pavilhão Infante Sagres, o pavilhão do Académico e o do estádio das Antas testemunharam esses acontecimentos, muitas vezes esquecidos ou ignorados quando se escreve sobre a história do pop-rock em Portugal.
Apesar de um certo centralismo também na música, o Norte do país afirmou-se como um palco natural para eventos desta natureza. E continua a fazê-lo, mesmo que, tal como nos anos 80 e 90, ainda se perceba uma certa distância entre as duas maiores cidades portuguesas. É de refletir sobre a razão pela qual grandes festivais no Norte não têm este ano um patrocinador de relevo, ao contrário dos eventos do género no Sul, e que ainda haja um - Vilar de Mouros - sem cartaz público.
Com mais ou menos esforço, há promotores resistentes que continuam a fazer o seu caminho e que fazem do Porto e do Norte um palco importante para o país e para a Europa. O arranque do North Festival esta sexta-feira é prova disso.
É, pois, incompreensível que ainda se discuta a importância de uma banda como os Coldplay atuar em Coimbra, com argumentos pequenos e de carácter centralista.
Já no Porto continua a faltar uma sala de espetáculos com a capacidade do Altice Arena. A cidade, os seus habitantes e visitantes merecem-no.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias - 26.5.2023