22.5.23

ABRANTES: Médico condenado por falsificar gravidez da própria mulher para receber subsídios

Um médico ginecologista do Hospital de Abrantes falsificou uma gravidez da própria mulher para obterem, indevidamente, 96 mil euros em subsídios da Segurança Social. O clínico, de 38 anos, e a companheira, de 37, foram julgados e condenados no Tribunal de Santarém pelo esquema de falsificação de documentos, após denúncia e participação judicial por parte do Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Durante o julgamento, o médico afirmou estar “arrependido” e “envergonhado” do que fez, mas assumiu também que agiu “por pura ganância”, tendo o casal já devolvido o dinheiro ao Estado. O médico continua a exercer, mas num consultório particular, já que foi dispensado e denunciado à Justiça pela administração do CHMT, que gere o Hospital de Abrantes.
O ginecologista foi condenado a dois anos e oito meses de prisão, com pena suspensa, pelo crime de burla tributária, relata hoje a Rede Regional, na sequência de ter engendrado um esquema de falsas baixas médicas que lesou a Segurança Social em perto de 96 mil euros. A mulher, que era cúmplice e beneficiária da falsificação das declarações de gravidez de risco e de aborto espontâneo, foi condenada a 2 anos e 2 meses de prisão, igualmente suspensos na sua execução.
O coletivo de juízes do Tribunal de Santarém levou em conta o facto dos arguidos, de 37 e 38 anos, terem confessado o crime, explicando que agiram por “pura ganância”, e de terem devolvido o dinheiro de que se apropriaram indevidamente aos cofres do Estado.
CHMT apresenta queixa-crime contra médico obstetra
Contactado pelo mediotejo.net, o Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar do Médio Tejo disse que o médico obstetra em causa trabalhou na instituição em regime de prestação de serviços entre outubro de 2014 e setembro de 2021, e que “foi a pronta e diligente atuação” daquele órgão de gestão que culminou no julgamento do casal.
“Efetivamente, assim que o CA do CHMT recebeu uma denúncia sobre a alegada atuação ilícita do especialista, promoveu uma audição do médico com a Diretora do Serviço de Obstetrícia. Perante a confissão do mesmo dos atos praticados, procedeu-se de imediato à revogação do contrato de prestação de serviços que este mantinha através de empresa própria com o CHMT, através de deliberação por unanimidade do CA”, tendo sido apresentada queixa-crime contra o médico.
“Ato contínuo, deliberou o CA apresentar queixa-crime contra o médico, junto do Ministério Público, pelos atos praticados – falsificação de documentos –, tendo sido de igual modo, de imediato, comunicada toda a situação à Ordem dos Médicos, à Inspeção Geral das Atividades em Saúde e à Entidade Reguladora da Saúde”, referiu o CHMT, presidido por Casimiro Ramos.
Segundo o CHMT, “foi também realizada denúncia junto da Comissão Nacional de Proteção de Dados, considerando a utilização indevida de dados de acesso de outros médicos da instituição”.
Médico contratou mulher e alegou gravidez de risco
O esquema fraudulento começou depois do médico contratar a mulher para a sua empresa, em troco de um salário de 4750 euros. Depois usou as credenciais de acesso de outros dois clínicos do hospital para entrar no sistema que permite emitir receitas e atestados.
Desta forma, registou a companheira como utente da unidade hospitalar entre 2020 e 2021 e, a partir daí, emitiu um total de nove certificados de incapacidade temporária para o trabalho por uma suposta gravidez de risco, que nunca existiu.
A Segurança Social acabou por pagar as baixas fraudulentas, que atingiram um total de 96 mil euros.
* Mário Rui Fonseca in mediotejo.net -18 de Maio, 2023