2.4.23

OPINIÃO: BCE a ajudar os americanos para o prejuízo da União Europeia

 
Com a indústria da guerra a lucrar a par da indústria financeira, os fantasmas de 2008 voltaram e já ouvimos bater à porta uma nova crise financeira. Desta vez não foi o Lehman Brothers, mas outros três bancos americanos, entre eles o famoso Silicon Valley Bank que garantia o futuro para as start-ups. Acontece que os EUA não garantem a regulação e com Trump tudo ficou mais selvagem, com operações especulativas que a alta finança tanto gosta, mas que acarreta os riscos do costume.
Depois da falência de dois bancos regionais americanos, de seguida aparece o Credit Suisse a apresentar problemas, agitando bolsas como a de Wall Street e a assustar a banca europeia. É extraordinário perceber que neste reino da lavagem autorizada de dinheiro, a par do beneplácito corredor da corrupção, estala o verniz. Mais uma vez, estamos perante problemas criados por uso de produtos tóxicos, lavagem criminosa de dinheiro, capital de risco, criptoativos escondidos e especulação. Este banco suíço é conhecido por envolvimento em vários escândalos de corrupção e goza do poder que os banqueiros têm sobre governos.
A UBS, entretanto, comprou o Credit Suisse, depois de este ter sido recapitalizado com 51 mil milhões de euros e assim, naquela que é considerada a caixa forte da Europa, foi necessário unir os dois maiores bancos para enfrentar esta crise que promete contagiar outros bancos e contas públicas. Exemplo disso são o Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha, o BNP Paribas, um dos maiores bancos da Europa com sede em Paris e o britânico Barclays com operações em mais de 50 países.
Os avisos nem são difíceis de perceber, o grande Deutsche Bank, desde 2019 que anda a fechar balcões à imagem de outros Bancos e em 2020, anunciou criar um “banco mau”. Onde é que já ouvimos esta história? No mês passado, tal como o Barclays, o Morgan Stanley e o JP Morgan, anunciou que vai começar a aplicar multas aos funcionários.
O certo é que tudo isto influenciou as bolsas e pior, começou a enervar as agências de rating que como é habitual começam a definir os mais fracos como lixo. Já não se percebe como é que estas agências de cariz bastante duvidoso, mas que abanam governos, na véspera da queda do Silicon Valley, tinham esta entidade muito bem cotada. Mas o caso não é novo, já conhecemos a história e continuamos reféns destes vampiros com uma União Europeia incapaz ou cúmplice disto, ao não criar uma agência de rating europeia independente.
Enquanto isso, o BCE financia em dólares os bancos da zona euro e nada faz para travar as bolhas especulativas, tal é a submissão ao sistema financeiro. O BCE de mão dada com a Reserva Federal Americana, estão tranquilos, pois sabem e é histórico, que os contribuintes pagam todas as faturas enquanto os banqueiros arrecadam lucros. Entretanto as dívidas dos Estados crescem e ninguém exige uma auditoria a este descaramento.
Os governantes já garantiram a robustez do sistema financeiro, pois eles sabem que os contribuintes pagam estes desastres, que privatiza o lucro e nacionaliza o prejuízo. A banca distribui os seus fantásticos lucros aos acionistas e depois exige, que o contribuinte pague juros altíssimos, despesas de manutenção surrealistas, entre outras. A indústria financeira tem estado sempre garantida porque parasita os apoios públicos.
Apesar das garantias, já se percebeu que há perdas em Portugal para quem investiu no Credit Suisse. É o caso da Segurança Social e das seguradoras. Quanto às seguradoras, agiram por conta e risco, mas que legitimidade têm os nossos governantes para apostarem o dinheiro da Segurança Social em casinos de alto risco?
Não existem dúvidas na esfera da economia séria, de que tudo isto assenta numa espiral de lucro desenfreado, sem capacidade dos governos, ou cumplicidade de outros para controlar este capitalismo desenfreado, que engorda os mais ricos do mundo e empobrece cada vez mais gente.
As taxas de juro continuam a aumentar, enquanto Christine Lagarde, Presidente do BCE pede travão aos apoios dos governos para travarem a inflação. Que absurdo! Então a antiga Diretora Geral do FMI, não percebe que a subida de juros não resolve o problema da inflação? Esta senhora neogaullista, conservadora liberal e democrata-cristã, já deu provas de ataque à economia europeia, quando esteve no FMI. Agora, apadrinhada por outra democrata-cristã, Angela Merkel, continua o seu trabalho com o BCE a ajudar os americanos para o prejuízo da União Europeia.

* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 24.3.2023